quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Teocontratualismo No Judaísmo Mosaico

O contratualismo surgiu no pensamento ocidental por volta do séc XVII. O primeiro a colocar em pauta esta teoria foi Thomas Hobbes. Em sua obra “O Leviatã” de 1651, Hobbes afirma que o homem vivia em um estado primitivo, o qual chamou de “Estado de Natureza”.

Nessa condição, as vontades individuais sem freios mantinham os seres humanos em constante estado de tensão e de ‘guerra’ de uns contra os outros. Para garantir a subsistência da espécie, os homens abriram mão da plena liberdade individual, se sujeitando a um poder central, chamado de Estado. Este teria toda a força sobre a sociedade, para garantir a ordem.

Continuando a tradição, porém vendo sob outro aspecto, Locke coloca que o Estado é fruto da confiança e do consentimento entre os homens. O aparato Estatal não é mais um opressor, mas um administrador das relações inter-humanas.

Para completar a tríade que serve de pilar para a teoria contratualista moderna, aparece Rousseau. O filósofo francês questiona a vida em sociedade sem liberdade e acredita que os homens se unem por um interesse comum. Para ele, o homem nasce bom, porém a vida em sociedade o corrompe.

E o que têm os 3 filósofos a ver com Moisés?


A história começa muito antes, com Abraão. Este era já muito idoso e não tinha filhos. Deus o chama e promete que da aliança entre ambos vai se desenvolver um povo, uma Nação na qual nascerá o Filho Unigênito do criador.

Está firmado o primeiro contrato social, sob a égide divina! Não entre uma comunidade e seus membros, mas entre o Criador e um homem fiel, que será herdado por toda a sua descendência. A confirmação e estruturação completa deste contrato acontece muitos anos mais tarde.

Quando Moisés lidera os hebreus para a liberdade fugindo da escravidão no Egito, o Contrato Sagrado é resgatado. Não sem antes o povo retornar ao Estado de Natureza.

Gozando de plena liberdade em sua caminhada rumo à Terra Prometida, o povo judeu se encontrava em completa anarquia. Todos os problemas eram levados ao patriarca libertador. Impossibilitado de resolver todas as pendências entre os libertos, Moisés pediu ajuda divina!

Deus enviou ao profeta um conjunto de Leis às quais todos do povo deveriam seguir indistintamente. A função dessas leis era, em primeiro lugar, louvar o Todo Poderoso. Mas também existiam para manter a ordem, a fim de que o povo chegasse ao fim da jornada.

Essa história é muito conhecida em nossa cultura, que herda boa parte das tradições judaicas. Mas o importante é que analisemos um exemplo clássico de como o homem pôde se encontrar em estado de natureza. Advindo dele, celebra um acordo que cria um aparato virtual com um objetivo claro de gerar ordem e bem-estar geral.

Este exemplo ilustra a visão de Locke sobre o Estado de Natureza. Para o filósofo, este estado não era um momento histórico específico e poderia ser atingido a qualquer momento por um motivo ou outro, contrariando a visão de Hobbes, que cria ser apenas um momento histórico ao qual não se poderia voltar.

Por vontade divina ou por acordo livre, expresso ou tácito entre os homens, a teoria contratualista continua válida. Sua importância é grande tanto para o Príncipe que quer saber como governar, quanto para o povo que deseja ser bem governado.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Inexorável Pendência Acerca do Entendimento Definitivo do Real

O que é a realidade? O que existe e o que não existe? O real é explicado a partir de elementos presentes no mundo sensível, como acreditavam os filósofos Pré-Socráticos? Ou seria um reflexo de um mundo perfeito ao qual temos acesso somente às suas impressões, semelhante ao mundo das idéias de Platão? Ou quem sabe ainda, não temos nenhuma possibilidade de acesso ao que é de fato real e somente podemos nos ater ao que nossos sentidos podem captar e, a partir disso criar uma noção de realidade sobre o que é provável racionalmente e não o que É de fato?

Essas reflexões não são novas. Mas são muito atuais.

A humanidade discute esse tema desde os primeiros filósofos na antiga Grécia. Hoje, em um mundo permeado de realidade virtual, esse debate ganha contornos mais práticos. Jogos de realidade alternativa e reality shows aguçam ainda mais esse debate.
Um jovem que cria um avatar em um jogo online em um ambiente virtual e depois de avançar diversos níveis com a personagem o vende para outro jogador por dinheiro real (ou crédito) é algo comum hoje! Mas seria este procedimento real?

O real é só material ou algo que não pudesse ser percebido pelos sentidos humano também poderia receber esta denominação?  Se for possível, então uma imaginação poderia ser algo real, na medida em que é algo sensível a uma pessoa, embora seja uma experiência que não possa ser compartilhada? Logo, uma alucinação poderia ser qualificada como algo verdadeiro? Ou só poderíamos assim qualificar coisas que possam ser compartilhadas entre várias pessoas, ou seja, que diversos produtores de sentidos possam captar?

Mas se for assim, seria irreal um alto nível de raciocínio ao qual os seres humano normais não teriam acesso? Mas o pensamento não seria algo que de fato existe, como propôs o filósofo francês, René Descartes? Se sei que existo porque penso, logo o pensamento deve existir, tendo em vista que é ele quem me faz existir e ter consciência disto.

Mas se só eu penso, pode ser este pensamento alucinação? Então meu pensamento deve ser compartilhado pelos outros que pensam e, logo, também existem? Ou será que esses outros são frutos do meu pensamento que creio que exista, mas cria coisa que não existem! Então essas coisas que não existem fazem com que meu pensamento também inexista ou meu pensamento existente cria coisas e, por este existir, essas coisas vêm para o campo do que existe?

Ou podemos crer que existe o real e o irreal? Mas se é irreal, na prática, não é inexistente? A imaginação, a fábula, a literatura, o cinema, tratam de que? Coisas que existem em imaginação ou que não existem? Se não existem como podemos percebê-las? Então nosso cérebro nos engana? Então não poderia estar nos enganando acerca de nossos pensamentos, logo estes não existem também?

Se para o corpo o real é o que pode ser sentido, para a mente é o que pode ser pensado.  Seria para o grupo, o que pode ser compartilhado sensorialmente? Dessa forma não estaria um grupo de mentes, submetidos ao seu grupo de corpos? Então quem define o que é real, o corpo, a mente ou o grupo?


Então, o que é realidade...?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Os Sábios que não creem na Verdade!!!

   Há cerca de 2.500 anos atrás, no século V a.C., uma cidade se destacava no centro da planície Ática, às margens do Mar Egeu. Sua cultura urbana e cosmopolita era baseada na democracia e na participação de todos os cidadãos (homens adultos e livres) nas decisões política. Seu nome era Atenas, em homenagem à deusa da sabedoria da antiga mitologia grega. 

   Mas não foi a mitologia que direcionou a cidade ao eu esplendor cultural e a sua importância histórica. Ao contrário, foi a razão. 

   Naquele período, o povo grego passava por um período de conflitos e mudanças significativas que acabariam por impactar, não somente a sua própria história, como também em toda a civilização ocidental. Dividida em Cidades-Estado, que tinham formas de organização política, leis e economias próprias, a Grécia começava a desenvolver o pensamento crítico em confronto ao pensamento mítico. 
  
  Esse desenvolvimento foi possível pelas transformações que algumas das principais Cidades-Estados passaram. Monarquias e tiranias baseadas na força e no direito divino vinham sendo substituídas por uma forma mais igualitária e participativa de organização sócio-política, chamada Democracia.
  Com a implantação desta organização a capacidade discursiva, a oratória e o conhecimento ganharam força e se sobrepuseram a direitos inatos e à força bélica, ao menos internamente a esses Estados. O poder do convencimento sobrepujou o poder da espada. Nesse contexto, surgiu uma nova classe: Os Filósofos. E posteriormente uma importante subclasse: Os Sofistas.

  Mestres do discurso e da oratória, os Sofistas marchavam pela Grécia, geralmente vendendo seu conhecimento e preparando grandes estadistas para os embates nas Assembleias de Cidadãos, nas cidades em que a democracia imperava. 
  Muitas vezes são vistos como enganadores, especialmente hoje, uma vez que os conhecemos principalmente devido a citações de seus adversários mais famosos (como Platão e Aristóteles) uma vez que poucos escritos dos próprios sofistas permaneceram. Mas o termo sofista deriva da palavra sábio. Mestres da retórica, nãos constituíram uma escola de penamento em si, como monistas ou eleatas. Em geral acreditavam que a explicação do real poderia ser dada apenas por meio de fenômenos percebidos sensorialmente. A realidade é mutável e o que é provável se torna mais importante do que seria de fato verdadeiro, dado que a verdade é praticamente inalcançável aos sentidos humanos. 

  "O homem é a medida de todas as coisas" - frase célebre do filósofo Protágoras, conhecido como o sofista mais importante. Esta afirmação é comumente considerada como a melhor síntese para o penamento atribuído aos sofistas. Apesar de uma forma de pensar que pôde-se analisar padronizadamente, a principal função deste grupo foi ensinar retórica e oratória aos cidadãos que pudessem lhes pagar. 
  Os sofistas tiveram grande importância no desenvolvimento da poética e da gramática, devido ao rigor vocabular e ao estudo da linguagem e da tradição cultural do seu povo.


  

  

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Para que serve a Filosofia!

"É coisa de maluco"! "Tem que usar tóxico para falar disso"! "Não serve para nada"! É normal ouvirmos frases como estas quando o assunto é filosofia. Vista como exageradamente abstrata e transcendente, a disciplina é tida pelo senso comum como algo pouco útil e exclusivo de pessoas com muito tempo livre. Entretanto, a história da filosofia aponta que sua importância é muito maior do que a maioria das pessoas costuma atribuir. 

Atualmente vivemos em um mundo no qual a tecnologia é essencial ao nosso dia a dia. Não saímos mais de casa sem levarmos nossos smarphones. Nos sentimos isolados do mundo se ficamos um dia sem WhatsApp e não imaginamos como podemos trabalhar sem acesso ao e-mail. 

"E o que tem a ver"?

Bem, muito provavelmente, não teríamos acesso a toda essa tecnologia hoje, se ontem o pensamento filosófico não tivesse se desenvolvido. A filosofia surge na Grécia por volta do século VI a.C.. A diferença entre a verão grega e outras formas de pensar ais quais também costumamos chamar de filosofia é a utilização do pensamento crítico, da desmistificação da natureza, produzindo ciência de fato. 

De acordo com Aristóteles em Metafísica Livro 1, Tales de Mileto foi o primeiro a buscar uma explicação estritamente racional para o mundo. Essa forma de penar rompia com o o pensamento mítico, que buscava explicações para a realidade no sobrenatural e no mistério. Já o pensamento filosófico-científico que surgia tentava encontrar uma explicação para a o mundo dentro da realidade sensorial, perceptível ou inteligível, de forma racional e sem recorrer ao inexplicável para explicar. 

A primeira motivação desses inovadores filósofos foi buscar uma explicação para o mundo natural, como ele surgiu e em que consistia a matéria. Ao enveredarem por esta busca, abriram assim caminho para o entendimento e o conhecimento da realidade natural e puderam desenvolver a ciência de forma livre. Mas foram muito além disso.

Tales, por exemplo, era um exímio observador dos céus, sendo um grande astrônomo em seu tempo. Era muito criticado por seus contemporâneos por ser pobre. Mas usando seus conhecimentos sobre os astros e seu seno crítico, conseguiu prever uma grande safra de azeitonas, com um ano de antecedência. Tratou de comprar e alugar barato tantas prensas de azeitonas o quanto pôde e, quando veio a época de colheita, as alugou por preço alto, mudando sua condição social. Tornou-se rico.

Sobre este feito, Aristóteles concluiu a seguinte afirmação: “É fácil aos filósofos enriquecer se o desejarem, mas não é isso o que lhes interessa”!

Uma ciência que estuda como saber. Podemos dar esta definição à Filosofia, uma disciplina que busca refletir sobre as questões essenciais do mundo, da realidade, da formação das coisas materiais e imateriais, da ética, da moral, da sociedade em si, da linguagem, do agir, etc, através da lógica e da razão, sem recorrer ao mito e ao sobrenatural e inexplicável.

O mundo que vivemos hoje é resultado do que vivemos no passado. E o futuro está sendo construído agora. E os meios estão dentro de nossas mentes. Reflitamos!