sexta-feira, 18 de julho de 2025

Como Parmênides explica a inexistência do movimento?

Depois que os primeiros filósofos jônios mudaram o foco da explicação do mundo e da realidade do mito abstrato para a realidade objetiva, muito outros pensadores surgiram na Grécia e no Mundo Helênico



Por volta do ano 500 a.C. , surgiu em Eleia, uma cidade grega um pensador revolucionário que escrevia em versos suas ideias sobre o Ser.

Parmênides tem só um trabalho conhecido, que seria o livro escrito em versos "Sobre a Natureza" do qual sobreviveram alguns fragmentos. 

Nele e nos relatos a respeito, o filósofo desenvolve a complexa e fundamental reflexão sobre o Ser e o Não-Ser.

O livro é dividido em duas partes:  o Caminho da Verdade e o Caminho da Opinião.

Segundo o autor, o Caminho da Verdade apresenta a realidade do Ser, que é o que existe, é eterno e imutável. 

Dessa maneira, tudo o que existe está contido no "Ser". Dá a afirmação que "O Ser é (e só o Ser pode ser)".

Assim como o "Não-Ser não é e nem pode ser pensado". 

Isso significa que o Ser sempre existiu e continuará existindo, pois se existe veio de algo que existe e não de algo que não exista (o Não-Ser).

Tudo o que existe, para Parmênides faz parte de uma mesma natureza que sempre existiu e existe em todas as partes do Cosmos. 

Não é banhada, circundada ou cercada por nada que são seja ela mesma, pois o Não-Ser não existe. 

Logo, não existiria nada que não fizesse parte do nosso Universo (por assim dizer), pois tudo o que existe "É", logo faz parte do "Ser".

Não existe, portanto, nada fora deste "Ser" , que é compreendido como eterno e imutável, pois se não fosse eterno, acabaria e se transformaria em sua antítese, o Não-Ser. 

Da mesma forma que, se mudasse, se transformaria em algo que não é, logo deixaria se ser o "Ser". 

O Ser também é uno e indivisível. 

Se houvesse multiplicidade, seria porque uma parte do Ser estaria separada da outra por algo que não é Ser (o vazio ou não-ser), o que é impossível. 

Portanto, a realidade é um todo contínuo e homogêneo.

Em consequência disso, o movimento não existe na realidade do Ser.

 O movimento implicaria que o Ser se move para um lugar onde antes não estava (ou seja, para o não-ser) ou que partes do Ser se separam, o que contradiz a unidade.

Já a segunda parte é onde apresenta o Caminho da Opinião (doxa), onde apresenta aquilo que chamamos de movimento como uma ilusão dos sentidos.

Parmênides reconhece que nossa experiência sensorial nos mostra um mundo de mudança, multiplicidade e movimento. 

No entanto, ele argumenta que essa percepção é enganosa e pertence ao "Caminho da Opinião".

Segundo o filósofo de Eleia, apenas a razão (logos) pode nos levar ao "Caminho da Verdade" e à compreensão do Ser como ele realmente é. 

Os sentidos nos iludem, enquanto o intelecto, por outro lado nos revela a verdade da realidade.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

O que é Filosofia (enquanto disciplina)

Filosofia é um termo amplo e, muitas vezes entendido de forma genérica, que associa-se tanto a uma linha de pensamento, quanto a uma normativa ética e, ao mesmo tempo também a uma conduta de vida e doutrina religiosa, política, educacional etc.



Mas no campo da disciplina que conhecemos como filosofia, que fundamentou suas bases a partir dos pensadores helênicos que iniciaram suas elucubrações por volta do século VI a.C. temos que considerar um diferenciação acentuada no entendimento do termo.

O que chamamos de filosofia, no sentido disciplinar, refere-se ao pensamento crítico-racional e fora de fato iniciado na Grécia, provavelmente por Tales, em Mileto. 

Essa disciplina busca explicações racionais e empíricas, baseadas na realidade sensível e na razão, sem a recorrência a mitos e explicações sobrenaturais. 

Esta é a grande diferença, o pulo do gato, em relação às filosofias orientais, africanas e ameríndias. O foco na razão e no mundo sensível, para gerar as explicações. 

Isso não significa ateísmo, uma vez que as explicações racionais se dão a despeito da existência ou não de deuses ou entidades sobre-humanas.

Vemos que, mesmo os filósofos associados à uma igreja, como os católicos medievais, buscam explicações racionais e bases filosóficas para questões de fé, o que é o diferencial da disciplina em questão. 

O outro aspecto que advém do primeiro é o uso do caráter crítico do pensamento, se afastando dos dogmas e valorizando a contestação, ao contrário do que as teorias filosóficas calcadas em instituições religiosas preconiza. 

Dessa maneira fica fácil percebermos a diferença do sentido do termo, quando se trata de forma genérica e quando se trata da disciplina especificamente. 

Nesta o carácter crítico e a liberdade para raciocinar superam os dogmas, enquanto naquela o dogma sobressai sobre qualquer outro caráter. 


quarta-feira, 2 de julho de 2025

O Primeiro Filósofo

 Naquele tempo, cada povo tinha sua própria explicação para o surgimento do mundo e da vida. Cada deus nacional tinha criado o mundo e inserido a vida nele. 

Mas isso não poderia ser verdade, pois só há um mundo e, aparentemente para um jovem comerciante grego do século VI a.C. todos os povos pareciam ser compostos por gente, por seres humanos, apesar de marcantes diferenças físicas. 

Todos falavam, andavam, comiam, dormiam, construíam, se reproduziam, ou seja, eram todos muito similares. Como um poderia ter sido criado de uma forma por um deus e outro de outra, por outro deus diferente, de um panteão de deuses tão diferentes e com tantas capacidades sobre humanas. 

Não será que se tratam do mesmo deus? Ou será que a explicação não é plausível?

Pensando nisso, um comerciante da cidade de Mileto, na costa da Jônia, onde hoje está localizada a Turquia passou a refletir sobre o surgimento do Universo. 

Em suas reflexões, considerou a possibilidade de tudo advir de um único elemento, que passou a chamar de "Elemento Primordial" , ou "Arché" , a causa de tudo o que existe. 

A noção de Arché propõe que deste elemento original tudo mais se derivou.

Todo o Universo e tudo o que está dele teria surgido desta causa primeira, deste elemento.



O primeiro a propor tal reflexão foi Tales de Mileto, um comerciante, político, astrônomo da antiga Jônia. 

Segundo o grego Aristóteles, ele teria sido o primeiro a quem podemos considerar filósofo, na tradição racionalista ocidental. 

Através da sua proposição de elemento primordial, ele afastou a explicação do surgimento do Universo e da criação do mundo da esfera mitológica e aproximou do racionalismo. 

Tales propusera que a água poderia ter sido este princípio fundamental. Porém, sua consciência de limitação da sua inteligência não fez desta proposição um dogma irrefutável. 

Ao contrário, seus discípulos e sucessores propuseram outras substâncias primordiais, outras causas universais e, assim deu início a uma tradição racional e crítica das explicações do mundo e das ciências. 

Anaximandro de Mileto, seu primeiro discípulo importante propôs o A-peiron, enquanto Anaxímenes, também de Mileto, sugeriu o Ar, como substância primordial.

E assim, a filosofia ocidental, racional e empirista se desenvolveu de forma crítica, buscando sempre refutações plausíveis, racionais e fundamentadas para as teorias propostas. 

A partir desses conceitos, a ciência surge com base na prova prática empírica para teorias racionalmente propostas e sempre buscando explicações para todas as propostas e para as próprias explicações. 

Assim nasceu a Escola de Mileto, a primeira corrente da Escola Jônica, a original da filosofia grega.