sexta-feira, 27 de novembro de 2020

O Cinismo

 

Olá! Seja bem-vindo ao Semanário do Pensamento. Nesta semana, estaremos falando um pouco sobre o Cinismo.




Um homem maltrapilho está deitado na beira da estrada. Ele está descalço, com roupa suja e rasgada. Nada tem consigo a não ser a roupa que o veste.

A descrição não trata de um morador de rua contemporâneo e nem de um anarcopunk, da Grã-Bretanha de 1977.  O indivíduo descrito, além de esfarrapado é também um pedinte, mas igualmente educador.

Trata-se de um filósofo cínico, do período Helenista, na Grécia do século IV e III a.C., na Grécia. O Cinismo foi marcado pelo completo desprendimento de bens materiais e pela máxima de viver a virtude em harmonia com a natureza.

Esta corrente foi iniciada por Antístenes, que era discípulo de Sócrates. Para ele, como para seu mestre, não era o prazer, mas a virtude sim a finalidade da existência humana. Por isso, os cínicos não só se abstêm dos bens materiais, como os desprezam profundamente.

Este grupo de filósofos não se constituíram enquanto uma escola, mas era conhecido por suas práticas que envolviam a negação da moral social e o desprendimento material. Viviam pelas ruas pedindo esmolas, como mendigos, porém por opção própria.

Mas quem levou ao extremo o conceito de cinismo foi Diógenes de Sinope, seguidor de Antístenes.

A importância de Diógenes foi tamanha que, o moderno termo “Cínico” deriva da palavra grega “Kynicos”, um adjetivo derivado do substantivo “Kynon”, que quer dizer cão. Era com esta alcunha que seus contemporâneos se dirigiam e falavam de Diógenes.

Ele fora exilado de sua cidade natal e se estabeleceu em Atenas, onde conheceu e passou a seguir Antístenes.

Alguns historiadores afirmam que teria vivido dentro de um barril, como o personagem Chavez, de Roberto Bolaños.

Conta a lenda, que Alexandre, O Grande teria perguntado ao filósofo apelidado de “Cão” o que este poderia fazer por ele. Sem perda de tempo, Diógenes teria respondido: “Você está tirando o meu Sol”, dado que lhe fazia sombra, no momento. Apesar da zombaria dos soldados do Imperador, Alexandre teria dito: “Se não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes”.

Os cínicos criticavam sobretudo a hipocrisia social. Acreditavam que a sociedade grega era permeada de mentiras e falsidades e defendiam uma vida na pobreza extrema, como forma de máxima virtude.

Defendiam a “Autarkeia” , que em grego significava Auto Suficiência e a apatia, como formas de se alcançar a virtude. Além disso, buscavam a harmonia e a coerência entre pensamento, discurso e ação. Também eram adeptos da liberdade sexual total.

O comportamento antissocial dos cínicos gerou muitas críticas aos seus adeptos desde a Grécia antiga. Eram imorais e desmedidos, assim como praticavam sexo em locais públicos. Afinal nem casa tinham para morar.

Os seguidores desta corrente se espalharam pelos territórios gregos durante a expansão romana. Alguns consideram que ela desapareceu. Outros que foi absorvida pelo cristianismo, em virtude da sua abnegação material, apesar do antagonismo, quanto à sexualidade.

As críticas a essas práticas já por volta do século XIX fizeram com que o termo cínico se tornasse mais conhecido pela forma pejorativa, com a qual é comumente empregada, hoje em dia.

Hoje, cínico é aquele fingido, sarcástico, irônico que se aproveita da ingenuidade alheia e é imoral. Algo que reflete em parte as práticas dos seguidores dessa escola, na Antiguidade Grega, mas também incorpora exatamente as características da sociedade a qual eles tanto criticaram com suas vidas.

Assim, concluímos a descrição das principais correntes filosóficas que predominaram no período Helenista.

Na próxima semana, falaremos um pouco sobre os Sete Sábios da Grécia Antiga.


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Araújo Neto 27/11/2020


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Ceticismo

 

Olá! Seja bem-vindo ao Semanário do Pensamento. Nesta semana, estaremos falando um pouco sobre o Ceticismo

No dia 19 de novembro foi comemorado o dia mundial da filosofia.

Agora, vamos ao que interessa:

Com certeza você já ouviu alguma vez alguém dizer uma frase como “Fulano é cético”, ou “estou cético quanto a isso”. Cético é um termo filosófico que se incorporou ao linguajar do cotidiano.

Este vocábulo é oriundo do grego “Skepsis”, que significa investigação. Em geral, o cético era o filósofo que continua buscando a verdade e persiste na busca, mesmo que ainda não a tenha encontrado.

De acordo com o filósofo grego conhecido como Sexto Empírico Pirro de Élis é o verdadeiro e autêntico filósofo cético. Entretanto, a tradição dos estudos acerca do termo considera a existência de diversas escolas que podem ser consideradas céticas.





De acordo com Danilo Marcondes, a tradição cética pode ser dividida em quatro grandes conjuntos:

O proto-ceticismo que seria a fase inicial e teria iniciado já com os Pré-Socráticos. É claro que, para se criar o pensamento crítico e iniciar a filosofia foi preciso que desde Tales uma boa dose de ceticismo teve de ser incorporada pelos primeiros pensadores. Era preciso continuar buscando a verdade para além dos dogmas religiosos daquele tempo.

O próprio Sócrates tem entre suas características mais comumente apresentadas o ceticismo, já que não aceitava inerte as verdades outorgadas a ele pela sociedade, assim como continuava a busca-la, afirmando saber apenas que nada sabe.

Além dele, boa parte dos sofistas poderiam ser incluídos nessa linha de pensamento, uma vez que acreditavam que a verdade, embora pudesse existir, talvez não fosse encontrável, pelo ser humano. Alguns, continuavam a busca.

O segundo conjunto seria capitaneado por Pirro de Élis, que viveu entre 360 e 270 a.C. Seu pensamento ficou conhecido através dos escritos do seu discípulo Tímon de Flios.

Para Pirro, a filosofia não é uma doutrina, uma teoria ou um sistema de saber e sim uma prática, um modo de viver.

Segundo Tímon, Pirro teria apontado resposta a três questões fundamentais:

1 - A Natureza das coisas: Nem a razão e nem os sentidos nos permitem conhecer as coisas tais quais elas realmente são.

2 - Como não conhecemos a natureza das coisas devemos evitar assumir posições em relação a isso.

3 - A consequência disso é manter o distanciamento, que nos leva à tranquilidade.

O terceiro grupo de céticos se refere, segundo Marcondes aos filósofos acadêmicos. Corresponderia, assim à fase cética da Academia fundada por Platão, iniciado por Arcesilau.

Essa tendência se destacou pela contraposição à filosofia estóica, muito popular no período helenista. Essa celeuma se deu em função do critério de verdade, que serve de base para a epistemologia da escola de Zenão.

Para os céticos, há dúvida sobre a possibilidade de se adotar um critério de verdade imune ao questionamento.

Por fim, o quarto grupo seria o pirronismo, ou ceticismo pirrônico, de onde se origina o pensamento de Sexto Empírico.

A grande característica do ceticismo é o que pode ser chamado de equipolência, em relação aos dogmas. Uma vez que várias escolas doutrinárias se apresentam com detentoras da verdade e os critérios por elas apresentadas dependem das teorias que elas próprias defendem, cabe ao cético se manter igualmente afastado de todas elas.

Daí surge a expressão “Juízo Suspenso”, que significa que não há como se determinar qual das várias verdades é mais válida e, portanto é melhor continuar buscando e assim alcançar a tranquilidade.

Essa suspensão de juízo, em grego era chamada de “Époche” e seria de origem estóica. Segundo o próprio Zenão de Cítio já teria usado o termo para afirmar que o sábio verdadeiro deveria suspender o juízo daquilo que a razão não pode apreender.

Com a cristianização do Império Romano, o ceticismo, como muitas doutrinas filosóficas consideradas pagãs acabaram sendo suprimidas. Ainda assim influenciaram teólogos e pensadores cristãos, como Eusébio, Lactâncio e Santo Agostinho.

Enfim, o Ceticismo é uma doutrina filosófica que se determina a examinar cética e criteriosamente dos sistemas dogmáticos que se apresentam como verdades.

Isso é algo que tem sido cada vez mais incomum, no mundo atual, dominado por tiranos intelectuais que impõe suas verdades, geralmente aceitas pela maioria que não se dá tempo para pensar a respeito e aceita o interesse como se fosse a verdade.

No próximo vídeo, falaremos um pouco sobre o Cinismo.



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Epicurismo

O que é o prazer? Como ele pode fazer-nos elevar a consciência e a virtude? Parece loucura ou contradição, mas existiu uma escola filosófica que, de fato propôs essa linah de pensamento. 

Passeando pelos jardins de Atenas em 306 a.C. alguém poderia assistir à palestra de um filósofo local que ensinava que o prazer era algo natural e deveria ser buscado de forma moderada para se alcançar a felicidade.

Ao ouvir tal apresentação muitos poderiam e puderam pensar se tratar de uma eloquente defesa hedonista do prazer acima de tudo. 

Bem, se esse filósofo em questão se chama Epicuro de Samos, percebemos que se trata de um completo exagero.


Para Epicuro esta vida que temos é única e é nela que temos que buscar a elevação e dela se aproveitar. Após a morte, nada poderemos fazer, segundo sua doutrina. 

O epicurismo foi originado por seu prógono Epicuro, em Atenas. Ele se reunia com seus discípulos em um jardim. E foi com o nome de Jardim (Keps, em grego) que esta escola ficou conhecida, em seu tempo.

O epicurismo é conhecido por muitos como “a filosofia do prazer”, No entanto,  na verdade se assemelha bastante ao estoicismo, por sugerir a busca da moderação e da tranquilidade como forma de se alcançar  estados de espíritos mais elevados: a ataraxia e a aponia.

A primeira seria um estado de tranquilidade considerado pela escola como o bem supremo e que seria conseguido através da busca moderada pelos prazeres.

Já o segundo conceito, chamado de Aponia consistiria em um estágio físico e psicológico no qual o indivíduo se afastaria das dores corporais, ao mesmo tempo em que se libertaria do medo. Essa liberdade seria alcançada pelo conhecimento do mundo e da natureza.

Ao unir os dois estados, aponia e ataraxia, o ser humano seria capaz de alcançar a plena felicidade. Epicuro afirmava que para ser feliz, o ser-humano precisa buscar o equilíbrio entre os medos e prazeres, de forma que o estágio de tranquilidade e felicidade seja contínuo e duradouro.

Nesse sentido, o prazer para o homem seria a prática da virtude, afastando-se das paixões e dos temores mundanos, carnais, buscando o equilíbrio e a moderação.

Os filósofos epicuristas valorizavam antes de tudo a experiência imediata, como forma de se acessar e adquirir o conhecimento. Por meio de uma pré-noção, que seria proporcionada pelos elementos percebidos pelos sentidos nessa experiência, seria possível adquirir conhecimentos posteriores. O conhecimento verdadeiro seria assim adquirido através da repetição das sensações. 

A principal obra de Epicuro foi seu tratado “Da natureza”. Nessa obra é retomada a teoria atomista. A partir de então, esta escola se notabilizou como defensora da física materialista e do mobilismo.

Epicuro não acreditava em vida após a morte. Para ele, o homem não é filho de deus algum. Sua existência é dada ao acaso. Dizia que a alma é apenas um conjunto de átomos, que se desintegra após o falecimento.

Por isso mesmo, as pessoas devem buscar a melhor vida possível, para que dentro da sua filosofia a moderação se alcançar o prazer virtuoso, ou seja, a virtude.

Dentre os epicuristas mais importantes do Período Helenista podemos destacar Filomeno de Gadara e Tito Lucrécio Caro.

Epicuro buscou conhecimento em mais de um mestre. A sua filosofia nasce em um período de crise social, na Grécia, quando o Império Alexandrino avança pela costa do Mediterrâneo.

Como buscava o recolhimento e a serenidade, fundou o seu “Jardim” em um local mais isolado, longe dos grandes centros, até para se afastar das polêmicas sofistas, de sua época, que ainda estavam muito em voga. 

Embora tenha permanecido ativa por cerca de 7 séculos, a fama de Epicuro e seus seguidores só ganhou o mundo mesmo no período renascentista.

Pensadores daquele período buscaram no epicurismo uma alternativa ao aristotelismo que predominou na Europa, até o final da Idade Média.

Na próxima semana falaremos do Ceticismo! 

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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Estoicismo

 

Olá! Seja bem-vindo ao Semanário do Pensamento. Nesta semana, estaremos falando um pouco sobre o Estoicismo







A ilha do Chipre é famosa por suas belas praias. Situado no Mar Mediterrâneo, a ilha pertence ao continente asiático, geograficamente. Porém suas ligações mais estreitas são com a Europa, inclusive fazendo parte da União Europeia.

Essas ligações advêm das tradições da maior parte do seu povo, que pertence à comunidade greco-cipriota, ou seja, de gregos que habitam o Chipre. E essa ocupação vem de longa data.

Por volta do ano 333 a.C., os fenícios ocupavam a ilha. Onde hoje está localizado o distrito cipriota de Lárnaca, existia uma cidade de nome Cítio.

Os fenícios eram exímios navegadores e, com seus barcos viajaram até os confins da Terra. Eram também conhecidos por serem habilidosos mercadores. Um desses mercadores chamava-se Zenão.

Além de xará do filósofo de Eleia, o Zenão de Cítio também ficou historicamente famoso por criar uma linha filosófica própria. Esta é conhecida como Estoicismo.

Segundo os relatos dos historiadores, como Diógenes Laércio, Zenão foi um comerciante de sucesso, além de um nobre filósofo. Teria sido também uma pessoa considerada séria e reservada e, até certo modo ele era visto como sombrio e obscuro.

Por volta do ano 300 a.C. fundou a sua escola. Antes, porém ele teria frequentado a Academia, de Platão. E de lá ele partiu par criar a sua própria doutrina filosófica. Mas teriam sido seus discípulos Cleantes e Crisipo, que desenvolveram o estoicismo, após Zenão.

A doutrina estóica propõe uma divisão da filosofia em três partes: a Física, a Lógica e a Ética. Os estóicos comparam esta divisão às partes que compõem a árvore. A física seria a raiz, enquanto a lógica seria o tronco e a ética os frutos.

Deste modo, criam que a ética seria a parte mais importante da filosofia, pois são os frutos que colhemos dela.

O estoicismo tem uma visão fisiocrática e considera o homem como um microcosmo dentro do macrocosmo. Dessa forma, para se alcançar a conduta ética, as ações do indivíduo devem estar de acordo com os princípios naturais, em harmonia com todo o cosmo. Agir bem seria então agir de acordo com a natureza.

Para tal, os estóicos consideram haver três virtudes básicas: A inteligência, que consiste no conhecimento do bem e do mal; A coragem, ou conhecimento do que temer e o que não temer e a justiça, que é a sabedoria em dar a cada um o que lhe é devido.

Como Zenão, fundador da escola fora influenciado pelos filósofos cínicos, defendia uma vida de virtudes, em sintonia com a natureza e a plena liberdade. A doutrina do filósofo afirmava também que nenhum homem era escravo por natureza.



E é a harmonia com a natureza que o estoicismo crê que seja o sentido da vida.

Esta crença, levada ao extremo torna-se deveras determinista, fatalista e apática. Tanto, que os estóicos defendem que para atingir a plenitude da felicidade, é preciso se afastar das paixões terrenas, das contrariedades e do desassossego.

E isto seria conseguido através da prática da apatia, da ataraxia, uma postura impassível, do indivíduo que nada espera e nada teme, se abandonando ao destino.

A felicidade é na verdade a tranquilidade, a ausência de preocupações que é alcançada pelo autocontrole, da austeridade e da aceitação do curso dos acontecimentos.

Este estágio seria dificílimo de se alcançar, só conseguido pelo verdadeiro sábio. Porém deveria ser busca constantemente.

Apesar de ter muitos pontos em comum com o epicurismo, o estoicismo diverge da filosofia de Epicuro pois esta considera que o prazer constitui o bem supremo, enquanto aquela considera a virtude como o maior dos bens.

Zenão de Cítio, fundador da escola defendia a busca pela paz de espírito e a lógica era, para ele uma forma eficiente de se evitar o engano e chegar-se à verdade. Assim, afirmava que a virtude só pode existir dentro da esfera da razão.

No século I a cúpula do estoicismo se descola para Roma, capital do então Império Romano que dominava toda a costa do Mediterrâneo. A partir daí cunhou-se os termos “novo estoicismo” ou “estoicismo imperial” para se referir às inovações associadas à doutrina.

Na versão latina, o estoicismo da ênfase à filosofia prática e humanística que valoriza a indiferença e o autocontrole.

Um dos grandes nomes desse período é Marco Aurélio, que foi imperador romano entre 161 e 180. Outro pensador associado à escola, neste período é Epitecto.

Despois deste período, tanto Roma quanto a Grécia acabam sendo dominados pela tendência eclética e o estoicismo vai se misturando às outras escolas, sendo muitas vezes associado ao neo platonismo. Também teve grande influência no desenvolvimento do cristianismo, na região, pois valorizava o autocontrole, a submissão e a austeridade, além de ser fortemente determinista

Na próxima semana, falaremos um pouco sobre o Epicurismo.

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