sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

POR QUE A INVEJA É O PIOR DOS SETE PECADOS CAPITAIS?



Segundo a doutrina bíblica cristã, existem sete pecados dos quais todos os demais derivam e, por este motivo são chamados de "Pecados Capitais".




A ideia é que os sete sejam igualmente danosos e prejudiciais, sendo a razão de todos os outros pecados e a raiz da decadência humana, na Terra. 

Entretanto, socialmente vemos uma certa aceitação e até estímulos para alguns pecados enquanto alguns outros são colocados como absolutamente inaceitáveis. Ou no caso, um outro, especificamente.

Esta interpretação social nada tem a ver com as doutrinas religiosas primitivas e mais a ver com o desenvolvimento social e material pelo qual a sociedade humana passou ao longo dos milênios que  seguiram à convenção Bíblica. 

Lembremos dos sete: Ira, Gula, Avareza, Preguiça, Luxúria, Cobiça e Inveja. Falemos uma por uma, como são vistas pela sociedade:

A Ira é bem contestada em seguimentos considerados mais elevados, em meios acadêmicos ou em instituições religiosas mais sérias. Socialmente têm-se uma dualidade, geralmente associada a interpretação individual que muitas vezes fazemos sobre tudo: Quando sou eu que faço está certo! Quando são outros está errado!" 

Mas não é apenas isso. A fúria, cólera ou ira pode ser justificável, em muitos conceitos sociais. E pode ser até juridicamente tipificada em dados momentos e alguns lugares. Não podemos esquecer da terminologia jurídica brasileira dos anos de 1940 que exemplificou a "legítima defesa da honra", justificativa de defesa que evocava a liberdade de matar a cônjuge infiel ou seu amante, em uma demonstração de ira bem exemplificada. 

A Gula é criticada, mais por pais ou por médicos. No meio social é vista até com certo humor e muitas vezes é razão de status. No meio dos homens, o que come mais ou bebe mais pode ser mais respeitado. Entre as mulheres, a gulosa que não engorda é vista com "admiração" (semente da inveja) pelas outras. 

A Avareza também pode ser razão de piadas, principalmente associadas a alguns povos. Em alguns lugares e para algumas profissionais, ela é até que deva ser estimulada. É claro que deve se ter a justa medida, um limite entre o necessário e o exagero. Mas quando se propaga que "dinheiro não é de quem ganha, é de quem não gasta" nunca sabemos como essa frase vai impactar no mente de quem a ouve. 

A preguiça é criticada por quem mete a mão na massa. Mas é valorizada por quem vive de renda. Nesse pecado, assim como na Ira, o errado é quando os outros fazem. O "eu" sempre tem os seus motivos. 

Quando está aquele calor exagerado e estamos na cadeira de praia, ou quando o frio lá fora é intenso, todos nós temos bons argumentos para justificar nossa falta de vontade de agir. E, nesses momentos contamos com a imediata compreensão dos outros.

A Luxúria também tem a sua dualidade. Ela é altamente criticada por setores mais conservadores, quando o agente do pecado é do sexo feminino e/ ou alguém homossexual. Quando é do sexo masculino e heterossexual ela é estimulada e respeitada pela maioria.  É como na questão "chave x fechadura". E aceitamos incólumes essa lógica. 

No caso da Cobiça vemos um pecado que mudou com o tempo. Em uma sociedade materialista, na qual o sucesso material é estimulado e razão das estratificações sociais, a cobiça é criticada com muita parcimônia. 

Em certos casos, a crítica a ela é trocada pela sua valorização. Em um mundo em que o conceito de meritocracia tão deturpado torna-se cada vez mais disseminado, um indivíduo que não tem algum nível razoável de cobiça tende a não crescer na vida e terminar materialmente insatisfeito. 

Mas é preciso cobiçar aquilo que não pertence a ninguém. É claro que ela é louvada quando a cobiça não está sobre o que é dos outros. Aí se torna Inveja. 

E a Inveja é o pior dos pecados. A razão, praticamente já foi citada acima. Em uma sociedade em que o sucesso material é a razão da hierarquia social e as regras morais são determinadas por que está no topo dessa hierarquia, a cobiça do bem alheio deve ser execrada ao máximo. 



Afinal, se estou no topo da pirâmide social como efeito do meu acúmulo de bens materiais, de modo algum vou aceitar que alguém fora do meu círculo deseje o que tenho. No fim das contas, é uma relação de poder. 

Enfim, a relação entre a sociedade e os pecados capitais é mais um exemplo de como a moral social é determinada pelos detentores do poder social que serve sempre como uma forma ideológica de justificação de quem manda e a imposição moral e social a quem está fora da esfera de poder. 


Araújo Neto 

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Deméritocracia parte 2

Onde vamos parar? Estudar passa a ser vergonha e ser estúpido passa a ser mérito! Quanto mais se grita, mais se é ouvido! Quanto mais se argumenta, mais se é contestado.



Quais são os critérios da nossa sociedade? Se um morador de rua vier te dizer que a Terra é esférica, tu o responderias dizendo o que? Sim? Não já sabe? A sua resposta depende quanto do interlocutor? 

Será que nos vale mais quem está falando do que o que esse alguém está falando? 

E se esse mesmo morador de rua te dissesse que a Terra é plana? O que tu responderias? Será que responderias? Ou deixaria passar em branco, dado que não passa de um morador de rua, sem dinheiro, sem status, sem influência, portanto sem direito ao debate, sem direito à voz? 

Mas um renomeado youtuber faz as mesmas considerações. Aí sim, você não hesita em comentar. Será só a comodidade d estar online? 

Até que você descobre que o youtuber é analfabeto e o mendigo tem PHD! 

Mas o que norteia nossa noção de meritocracia? O sucesso financeiro? O sucesso social? Os títulos diplomados?

Tudo relativo. 

Cada pessoa é uma pessoa, é um ser humano, um universo inteiro dentro de si. Será que o sentido da vida humana não está nisso? Em reconhecer o potencial ilimitado de cada indivíduo? 

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Cândido - Por que do otimismo?

"Vivemos no melhor dos mundos possíveis"!



Este é o lema do personagem Cândido, do conto filosófico homônimo (Cândido, ou O Otimismo) escrito por Froçois-Marie Arouet, mais conhecido  como Voltaire, em 1758. Na obra, o autor iluminista assina com o pseudônimo de "Monsieur le docteur Ralph (Senhor Dr. Ralph) e satiriza principalmente as ideias otimista de outro famoso filósofo: Leibniz. 

Na obra, o mantra recitado insistentemente por Cândido lhe fora ensinado por seu mentor Dr. Pangloss. O jovem protagonista fora criado apartado do mundo em um castelo no qual recebe os ensinamentos do mestre, otimista como Leibniz. 

Porém, acidentalmente acaba beijando a filha do Barão do Castelo e sua prima, Cunegundes e, por isso é expulso de lá. 

Após esse acontecimento, o jovem é exposto a uma sucessão de desventuras que, pouco a pouco vão destituindo este otimismo exagerado sobre a vida e lhe demonstrando o lado obscuro do mundo. E assim torna a sua visão menos exagerada (digamos assim) pelo otimismo de seus primeiros anos. 

O livro aborda muitas questões filosóficas, como o bem e o mal, a religião, a política, a guerra, até outros filósofos, sempre em tom satírico. 

Os acontecimentos históricos recentes também influenciam muito no roteiro da obra, como a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e o Grande Terremoto de Lisboa (1755).


Voltaire é certamente um dos filósofos iluministas mais icônicos. Sua forma de contar as histórias e tratar de temas relevante, assim com ode fazer suas críticas, de forma satírica e irônica o tornam um dos filósofos de leitura mais simples. 

Neste conto, a mistura de romance, aventura e comédia tornam a leitura leve e agradável até para os mais jovens. 


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Dia dos professores

15 de outubro é o dia em que se homenageia o professor, em todo o Brasil. A data era comemorada de forma informal, desde que D. Pedro I sancionou a primeira lei educacional do Brasil. 



Mas foi um projeto da Deputada Estadual Antonieta de Barros, filha de mãe escrava liberta e eleita por Santa Catarina em 1934 que oficializou a data. 

Ela criou o projeto em 1948 e em 1963, o então presidente João Goulart assinou o decreto federal que oficializou o dia de vez.

Na filosofia, os filósofos em geral são vistos como professores. Tales de mileto teria sido o primeiro deles e, sua visão de construção de conhecimento em conjunto com seus alunos e não apenas impondo sua visão foi determinante para o desenvolvimento do pensamento racional e do senso crítico no Ocidente. 

Deixamos aqui nossos parabéns para todos os professores, em especial para aqueles que se dedicam a alimentar a criatividade e propor participação ativa dos alunos na construção do conhecimento! 

Parabéns! E se mantenham pensantes !

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Demeritocracia [Parte 1]

Será que existe meritocracia, na sociedade atual?

Quantas horas de estudo e trabalho até bem feitos são necessários para tratar de assuntos complexos e necessário, úteis e que não têm retorno, porque a sociedade se ocupa em consumir conteúdos rasos, descartáveis e imediatistas, que apenas divertem por um curto período?



Quando se vê funções que, embora sejam interessantes, mas que não são imprescindíveis para a sociedade são tão bem remuneradas, enquanto muitas funções fundamentais para a manutenção da vida geral recebem remunerações pífias é preciso refletir sobre a moral remuneratória e o conceito de renome e mérito.

Na prática, a meritocracia é um conceito altamente contestável e deve ser relativizado. Principalmente na questão da heteronomia, um fenômeno que acontece quando alguém que não tem formação ou histórico em uma área usa veículos de comunicação para abordar o assunto, como se fosse um especialista. 

Vemos artistas, atletas, "influencers" que tratam de política e medicina, sem nunca ter estudada sequer um pouco sobre isso e usam suas famas para influenciar os menos abastados cognitivamente. 

Ao mesmo tempo em que isso acontece, vemos os recursos naturais se tornarem cada vez  mais escassos, em um mundo que é comandado exatamente por pessoas, cujo sucesso é resultado dessa mesma forma pitoresca e distorcida de meritocracia. 

Vivemos em uma sociedade que acha que fraude é mérito, que acha bonito quando se paga fichas telefônicas para os colegas ligarem pra rádio e pedirem a música dos filhos. Ou acha esperteza aqueles que criam perfis alternativos para cumprirem metas de inscritos, em redes sociais. 

Quanto mais idiota, melhor. Muita cultura, muito conteúdo não traz retorno. 



Araújo Neto


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

A Nova Caverna

Encerrados em seus próprios mundos e escravizados pela tecnologia, cada ser humano do século XXI vive,  a sua própria realidade. 



A verdade não se encontra na experiência ou no raciocínio, mas no pronunciamento da celebridade favorita, em sua rede social. 

As palavras, geralmente vazias, do artista, músico, político, modelo, ou atleta favorito torna-se verdade, sem julgo, sem crítica, sem a menor tentativa de experimentação. 

Se pensamos que um remédio vai tratar certa doença, não há estudo ou prática laboral que demova o ser humano de sua crença. 

Vivemos um mundo em que dogmas são impostos e raramente discutidos, em todos os âmbitos. 

O ser humano hoje vive encarcerado em sua caverna, vendo as sombras da vida, acreditando que estas são as coisas reais e não a suas impressões. 

O mito da caverna é uma passagem do livro "A República", escrito por Platão e que tem Sócrates, como personagem principal. 

Este conceito é apresentado por Platão, que se refere a um grupo de homens presos no interior de um caverna. Eles estão sempre de costas para a saída e há um muro entre eles e o mundo exterior. Do lado de fora, algumas pessoas passam com figuras e as sombras desses objetos aparece na parede interior da caverna. 

Os homens ali acorrentados observam as sombras e as tratam como se fossem os próprios objetos reais. Dessa forma, ele entendem como o mundo real o mundo das sombras que aparece no interior da caverna. 

Até que um deles se solta e descobre o que há no mundo exterior, o que há na realidade. Ele volta e tenta libertar os demais, mas Sócrates e Glauco (seu interlocutor no diálogo) acreditam que este seria punido severamente, ou considerado insano, pelos prisioneiros que não conheciam a luz. 

Esta passagem introduz ao dualismo platônico, que é representado pela dicotomia entre a luz e a sombra, entre o mundo sensível e o mundo das ideias, que seria o mundo pleno. 

Ela também mostra a importância do filósofo como aquele que busca o conhecimento verdadeiro e tem a possibilidade de apresentá-lo à sociedade. Entretanto também aponta a possibilidade deste não ser bem recebido pela sociedade. 



Hoje, nossas cavernas são nossos celulares, tablets, notebooks, computadores. Vemos por meio destes, em nossas redes sociais um mundo de sombras e fingimentos e acreditamos neste como uma realidade de fatos. 

Será possível que consigamos nos livrar dessas amarras e buscarmos a luz? 

Será que queremos?


Araújo Neto

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A Utopia - Thomas Morus

Thomas Morus era um cara diferente. Além de pensador e filósofo foi um estadista, advogado e legislador, que entre 1529 e 1532 ocupou o cargo de Lard Chancellor (Chanceler do Reino) durante o Reinado do polêmico monarca Henrique VIII.




Em 1516, Morus escreveu e publicou sua obra prima: A Utopia. O termo foi uma criação do próprio Thomas, que uniu os termos "Ou" que indica negação , "Topus" , que dá ideia de lugar e "ía", que é qualidade de um Estado. 

Utopia então significaria algo como "Em lugar Nenhum" e foi o título do livro no qual o escritor descreveu um lugar maravilhoso, paradisíaco no Novo Mundo recém descoberto, onde as pessoas viviam felizes e tinham completo desapego material. 

Nele, o soberano Utopus organizava a sociedade a fim de que todos dividissem seus bens materiais ao ponto em que não sobrasse nem faltasse nada de básico para os cidadãos daquele fantasioso reino.

Na época da conquista da América, pelos europeus, muitos relatos de cidades fantásticas e esplendorosas corriam o Velho Continente, como o "Eldorado" e mesmo a possível descoberta da Atlântida! Utopia entra nesse contexto sendo um relato conscientemente fictício que serviu como uma veemente crítica da sociedade europeia daquele tempo e o domínio do ouro.

Não é difícil se entender porque Morus foi decapitado a mando do próprio Rei Henrique VIII.



Além de sua defesa de um comunismo humanista e idealista, que se tornou referência para as classificações que seguiram às revolução liberais, Morus ainda se manteve fortemente ligado ao catolicismo, mesmo após a Reforma Anglicana, promovida pelo rei, que o mandou decapitar. 

A Utopia se tornou uma referência muito controversa na literatura política e utópico se tornou um adjetivo muito comum, quando os poderosos rejeitam qualquer teoria que conteste seus poderes.

Araújo Neto

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

O Príncipe - Nicolau Maquiavel

Nada de romantismo e nem de ideologia. O livro que abordamos hoje traz essencialmente fundamentos das relações políticas entre as pessoas em sociedade e, principalmente, entre governantes e governados. 



"O Príncipe" foi a obra máxima do escritor italiano Nicolau Maquiavel. O autor dedicou seu escrito a Lourenço II de Médici, Duque de Urbino. 

Para alguns historiadores, Maquiavel seria um republicano, que via no ducado uma solução para a unificação da Itália, que só aconteceria de fato três séculos depois.

Neste tratado, o autor tenta demonstrar a natureza do relacionamento político apontando os meios como  o governante pode manter a sociedade em paz e prosperidade, sendo ao mesmo tempo amado e temido pelo povo. 

Porém, não se pode dizer que seja uma defesa do absolutismo crescente, na época em que fora escrito, em 1513. Ao contrário, o próprio escritor aponta que ao mesmo tempo em que em sina o soberano a governar, busca mostrar o caminho para o povo saber cobrá-lo. 

Este livro é considerado por muitos cientistas políticos, sociólogos, historiadores e filósofos como uma das mais completas e bem estruturadas teorias políticas da historia, sendo um dos primeiros da Europa pós-medieval.

A obra também é vista com um olhar um tanto tendencioso. Após sua publicação, o termo "maquiavélico" acaba sendo incorporado ao linguajar cotidiano, sendo associado à maldade, ao ardil, ao interesseiro, em virtude da clássica frase contida nele que diz "os fins justificam os meios". 

No entanto, Maquiavel defende uma visão material e objetiva e, pela afirmação defende que o monarca deve buscar de todas as formas para manter sua autoridade e essa visão tem como base as relações complicadas que existiam na região italiano, no início do século XVI.

Apesar de ser seu  maior trabalho, Maquiavel não colheu os frutos do seu sucesso. "O Príncipe" foi publicado postumamente, ou seja, após a morte de seu autor. 





Araújo Neto

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

"Assim Falou Zaratrusta: Um Livro Para Todos e Para Ninguém"

Friedrich Wilhelm Nietzsche era um filósofo alemão nascido em 15 de outubro de 1844, no reino da Prússia. Vindo de família de pastores luteranos, Nietsche chegou a cogitar a seguir a carreira pastoral, mas mudou de ideia na adolescência. 




Sua visão crítica da realidade o levou a questionar a moral e a religião tradicional, assim como o senso comum e as tradições culturais. 

O livro retrata de forma poética e com base ficcional as andanças de Zaratrusta, um filósofo e profeta que assim se autonomeou após a fundação do zoroastrismo, na antiga Pérsia. 

O cerne das questões levantadas pelo escrito focam na noção que a humanidade é um estágio intermediário entre macacos evoluídos e o que Nietzsche vem chamar de "Übermensch", o Super Homem. 

Para alcançar tal estágio, o ser humano deveria evoluir abdicando de conceitos que serviriam de prisão para ele, como a moral, a religião etc. 

O livro é extremamente complexo e de difícil entendimento. Talvez duas ou três leituras não sejam o suficiente para capitar e entender todas as questões levantadas pelo autor. 

Além disso, o texto é absolutamente polêmico, evocando pontos como a "morte de Deus" e o "eterno retorno do mesmo", máxima que afirma que  sua vida é como é, mesmo que fosse para sempre, iria se repetir.

Apesar da complexidade, "Assim Falou Zaratrusta: Um Livro Para Todos e Para Ninguém" é essencial para quem quer entender sobre filosofia, sua história e suas implicações na contemporaneidade. 





Araújo Neto

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O Contrato Social

Se hoje vemos celeumas irreconciliáveis entre socialistas e liberais econômicos essa não foi a tônica quando essas doutrinas surgiram na Europa, no final do século XVIII. Nessa época, todos os que tinham visões contra o regime político-econômico vigente, o chamado "Acien Régime"*, eram agrupados nas fileiras do liberalismo. 


Jean-Jacques Rousseau - Wikipedia



Essa nova orientação político-social de cunho burguês tinha como objetivo trazer à sociedade europeia daquela época um conjunto de novos direitos que envolviam liberdade individual e econômica, além de avanços produtivos criando assim uma sociedade bem diferente da que existia até então. 



Esse conjunto de preceitos fomentou a consolidação da sociedade liberal-burguesa, no Ocidente e trouxe consigo, além das questões políticas outas visões em diversas áreas do saber, como a ciência e a arte. Um dos seus resultados foi a ampliação da Revolução Industrial, originada na Inglaterra, para toda a Europa e além. 

Na literatura e nas artes foi base para o desenvolvimento do romantismo, uma corrente literária caracterizada pela idealização e pelo sentimento, em contraponto ao industrialismo material da ciência, que mais tarde vai gerar o surgimento das correntes realistas.

E é nesse contexto do afloramento do romantismo que Jean-Jacques Rousseau dá a partida para seus escritos. O mais célebre deles é exatamente este livro: "Do Contrato Social " (ou "O Contrato Social"), obra pela qual o autor ficou historicamente conhecido. 

Rousseau fora um romântico liberal, ainda que com uma forte inclinação naturalista e igualitarista, além de admitir uma grande tendência espiritualista, a qual o fez criar desavenças com outro célebre filósofo francês, Voltaire.

No Contrato Social, Rousseau expõe suas visões sobre a origem do ser humano e da sociedade e como esta tem efeito nocivo na moral e no espírito natural daquele, correndo sua mente e seu coração. Para abrir mão da sua liberdade natural em troca da segurança da sociedade, o autor defende que o indivíduo deveria ter garantido o direito à liberdade civil, garantido exatamente pelo "Contrato Social". 

Este contrato seria uma espécie de mecanismo pelo qual o povo deveria ser agente ativo da relação com o governo desta sociedade, ao mesmo tempo em que deveria obedecer às leis proporcionando a mesma liberdade aos demais indivíduos componentes do agrupamento social. O Estado em si, apesar da importância não seria o soberano, mas suas ações deveriam se dar em nome da liberdade do seu povo.

Um dos enunciados mais repetidos propostos pelo filósofo francês foi a máxima de que o "homem nasce bom e a sociedade" o corrompe. Para ele, as instituições sociais eram o que de pior. No estado de natureza, ou seja, antes do surgimento da sociedade, haveria harmonia e abundância para o homem, pelo fato de ter igualdade e liberdade, além da coletividade ser uma constante que inclinava o indivíduo à busca do bem comum. 

Para ele, a propriedade privada e desigualmente distribuída era o princípio pelo qual se caracterizava a corrupção da coletividade. No "Contrato Social", Rousseau afirmou que:


"O homem nasceu livre e, em toda parte vive acorrentado. O que se crê amo dos outros não deixa de ser mais escravo que eles"! 



E este é o princípio que define não só este livro, mas toda a filosofia de Rousseau, uma busca pela liberdade, pelo felicidade coletiva e pela justiça social, deste que é um filósofo contratualista e liberal no sentido máximo, que influenciou revoluções burguesas que se seguiram ao seu período, além das doutrinas liberais, socialistas e anarquistas. 

Certamente é um dos livros mais importantes sobre política e filosofia da modernidade e ajuda a explicar boa parte das visões políticas mais marcantes dos acontecimentos históricos do final do século XVIII e do início do século XIX, antes que a dialética comunismo x capitalismo dominasse o discurso político ocidental. 


Araújo Neto (2021)


* Termo em francês que significa Antigo Regime

sábado, 14 de agosto de 2021

Técnica x popularidade

O que importa mais: ser profundamente bom ou ser amplamente popular?



Quando tratamos de um produto, de um objeto, de uma máquina ou de um serviço, a qualidade técnica é facilmente definida. Se um produto funciona como ele se propõe a funcionar e acima da média de seus similares, assim como se tem uma durabilidade alta dizemos que ele tem qualidade.

Entretanto, quando analisamos indivíduos e ações humanas esse conceito se torna amplamente relativo. Vemos músicas, livros, até mesmo profissionais que podem ser muito populares, mas que não apresentam a chamada qualidade técnica que muitas vezes é vista em obras e pessoas menos requisitadas. 

Quem apresenta mais qualidade, um pianista clássico que estudou por anos horas e horas o seu instrumento e que faz uma obra afinada e com uma produção sofisticada, mas que tem menos que uma centena de ouvistes ou um artista popular que faz uma produção quase caseira, desafinada e simplória, mas que que tem centenas de milhares de apreciadoras?

Será que importa mais ser tecnicamente ou bom ou ser popularmente reconhecido? 

Muitas vezes, em se tratando de questões humanas o que entendemos como bom, pode simplesmente não agradar o público, seja pelo momento social vivido, seja pela falta de compreensão do projeto, por parte das pessoas no meio ao qual ele é exposto. 

Será que Mozart e Chopin teriam alguma relevância no meio artístico atual? Será que Michael Jackson e Lady Gaga teriam sido conhecidos, antes do advento da música comercial?

Para ser popular é preciso atender às expectativas do público geral, para o qual a obra será direcionada, assim como ser facilmente assimilável e conter uma grande quantidade de elementos que sejam familiares aos receptores. Novidades devem ser inseridas com cautela. 

Já para ser tecnicamente bom é preciso muitas e muitas horas de estudo, prática e aperfeiçoamento. O curioso é que, nos tempos atuais, esta função exige mais investimento em tempo que a primeira, mas o retorno financeiro é altamente questionável.


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Filosofia e Esportes: Olimpíadas na Antiguidade.

O que tem a ver filosofia e esportes? Filósofo pratica esportes? Qual filósofo participou das Olimpíadas na antiguidade?



Quem acha que filósofos são "nerds" meio lesados, com dificuldades para esportes está enganado. Ao menos se estamos falando de filósofos gregos. 

Ao contrário do que os estereótipos atuais possam sugerir, os filósofos de Grécia Antiga costumavam-se a dedicar a muitas disciplinas e, por essa razão foram considerados homens universais.

Aristóteles, Sócrates e Platão, por exemplo, foram relatados como expectadores dos jogos olímpicos em algumas oportunidades. 

Platão foi além. Apesar da sua filosofia contemplativa, sua prática foi muito mais incisiva do que aparentaria. 

O filósofo inclusive participou dos jogos como competidor e teria sido bicampeão olímpico no pancrácio, um espécie de luta misturada com pugilato (quase um boxe), um "vale-tudo" da época. 

Outro que pode ter participado dos Jogos foi Pitágoras. Pode, porque até hoje não se sabe ao certo se foi mesmo o matemático de Samos, que chegou a ser proibido de competir no pugilato, o boxe da época, mas foi proibido de competir entre os meninos por ter sido considerado "efeminado". No entanto, competiu entre os homens e ganhou de todos os adversários. 

Segundo o clássico historiador e biógrafo dos filósofos gregos, Diógenes Laércio, não se tratavam da mesma pessoa, embora alguns autores contemporâneos discutam essa identidade. 

Aliás, hoje os especialistas em educação já admitem que há uma relação direta entre a prática de esportes e o desenvolvimento intelectual. Quem pratica esportes na escola aprende mais facilmente. 

Portanto, tenha cuidado! Não ache que aquele fortão que puxa ferro na academia tem a cabeça vazia. Muito filósofos também foram atletas. Filósofo também pratica esportes.




Araújo Neto


sexta-feira, 30 de julho de 2021

Socialismo Utópico X Socialismo Científico

Falar de socialismo e comunismo é muito complicado, devido às paixões e antíteses que os termos suscitam, hoje em dia. Mas é importante sempre destacar que em muitos casos propostas diametralmente opostas acabam sendo classificadas dentro destas mesmas categorias.




Este artigo é sobre a diferença entre o socialismo humanista, chamado de utópico e o comunismo marxista, classificado como científico. 

Antes de apontar as diferenças, entretanto, é preciso informar que os termos utópicos e científico empregados para qualificar os dois ramos que são bem diferentes em propostas e posturas podem ser vistos como adjetivos exagerados.

Tanto o cientificismo do marxismo quanto o idealismo dos humanistas têm suas limitações. Nem tudo é científico entre os marxistas, aliás boa parte da doutrina é baseada em especulação. Assim como os chamados utópicos buscaram praticar e comprovar suas teorias em diversas oportunidades. 

Mas de modo geral, a distinção é até plausível, uma vez que se trata de classificar a base de sustentação das propostas teóricas aqui analisadas. 

O socialismo humanista é uma derivação natural e consecutiva do liberalismo e do iluminismo do século XVIII. Nascido no final deste século e popularizado no início do século seguinte, esta corrente é amplamente influenciada pela escola literária do Romantismo.

Dessa forma, assim como o Liberalismo, esta corrente teve a maioria de suas ideias e doutrinas sedimentadas sobre um profundo idealismo romântico. Assim sendo, suas propostas são claramente idealizadas e seus sentimentos exacerbados são colocados muitas vezes à frente da razão.

Muito mais baseada em anseios do que na lógica e na experiência prática, o socialismo humanista recebeu a alcunha de utópico exatamente dos marxistas, em virtude de suas aspirações não empiricamente exemplificadas. 

De outro modo, na metade do século XIX,  surgiu a teoria marxista do comunismo. Ao contrário de sua antecessora, esta teoria buscava se basear em dados e observações da prática cotidiana. 

Devido ao período em que fora formulada, a teoria marxista é amplamente influenciada pelas escolas literárias do Realismo e do Determinismo, assim como oriunda da sociedade industrial pós-revolução, o tecnocracia e uma dose significativa de etnocentrismo podem ser detectadas, nessa corrente. 

Em virtude do crescimento e popularização da ciência, resultado da expansão da industrialização na Europa o Marxismo buscava ser essencialmente uma ciência, tendo como base a sociologia e a economia. Da mesma maneira, o internacionalismo que o avanço do capitalismo apresentava foi determinantemente influente para a concepção derradeira desta teoria. 




Enfim, de fato ambas as corrente tiveram muita influência na política e até os nossos dias têm. Importa salientar que o que temos de esquerda política nos países ocidentais tem uma fortíssima influência da primeira e uma leve inclinação para a segunda. Já em países cujas revoluções nacionalistas se sucederam durante o século XX forma mais notadamente influenciados pela segunda, como a URSS e a China. 


Araújo Neto

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Vale a pena refletir?

Momento como este em que vivemos nos faz refletir sobre nós, sobre o mundo! Nesse momento, temos de nos perguntar: o que de fato vale para nós?



Vale arriscar a vida que não volta, pelo dinheiro que é passageiro, que pode-se perder em um dia e ganhar em um outro?

Vale arriscar a vida dos outros em troca de momentos de glória efêmera e retornos tão imediatos quanto voláteis?

Vemos que muitos que buscam o retorno financeiro e material do que fazem não têm um objetivo para este retorno. O material é o próprio retorno. 

Vidas vazias que depositam esperanças em ídolos de luz, que desaparecem quando acaba a bateria. 

É um momento interessante para se perguntar se foi mesmo melhor termos criado a sociedade para vencermos a natureza ou se criamos uma selva ainda mais violenta do que a natural, de onde saímos a milênios. 

Terão razão os anarquistas que querem quebrar as máquinas? 

Terão razão os contratualistas que querem acordos entre os humanos para uma vida social tranquila e produtiva?

Ou terão razão os imperialistas e fascistas que defendem o uso da foça que vença o mais forte e esta é a justiça do mundo?

Será que valerá a pena refletir sobre isso, ou é mera perda de tempo e devemos nos concentrar em acumular mais e mais?

Será que vale a reflexão?



Araújo Neto

sexta-feira, 16 de julho de 2021

O que faz um filósofo?

No jornalismo, o profissional responsável pela redação de uma matéria, o redator deve responder a seis perguntas fundamentais, chamadas de Lead: o que? Quem? Quando? Onde? Como? Por que?




O filósofo, por sua vez tem uma função diferente. Ao invés de simplesmente responder ou até o inverso, contestar essas perguntas, a função do filósofo é questionar a razão das próprias perguntas. 

A razão de ser e de existir de todas as coisas, materiais e imateriais são temas sobre os quais o filósofo deve se debruçar e refletir. 

Para o senso comum basta que as perguntas sejam respondidas de forma razoavelmente convincente. Isso acontece até menos de forma menos racional e mais sentimental. Já para o filósofo, as respostas devem buscar o estrito racionalismo. 

Seu trabalho não termina no questionamento, mas se estende pelo significado, tanto lógico, quanto moral, quanto social, quanto psicológico do que se está questionando. 

Infelizmente, vivemos em uma sociedade que tem constantemente desmerecido a tarefa. Não por acaso, esta função sempre foi negligenciada pelos populares e mantida no interior dos palácios dos governantes. 

Historicamente, o filósofo esteve como conselheiro de grandes reis e imperadores e distante do popular, como podemos ver no caso da relação entre Aristóteles e Alexandre o Grande. De forma inversa vemos a história de Diógenes de Sinope e os Cínicos

Quando os filósofos se aproximam do povo, acabam se tornando ou se assemelhando a desabastados, mendigos, exilados e excluídos socialmente. Isso acontece porque o poder é muito ciumento. 

É preciso por fim, definir que o filósofo não é o falido, como tenta nos fazer crer aquele jogo de tabuleiro, cujo vencedor é o milionário e o perdedor vai para o campo, viver como filósofo. 

Muito menos é um jornalista frustrado que se torna astrólogo e depois de décadas de inutilidade se torna um agitador político anticientífico e terraplanista. 

Ao contrário, o filósofo não é o contestador da ciência, mas seu precursor. Só existe ciência hoje, porque no passado, os jônicos resolveram fazer filosofia. Assim, afastaram o pensamento do mito e da magia e proporcionaram a todos os que têm vontade a aprender como o mundo natural funciona. 

Muito Obrigado! 

Se Mantenha Pensante! 

Araújo Neto

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Além da liberdade!

Quem está mais próximo da liberdade?



John Stuart Mill, considerado por alguns como o pai do liberalismo e que era utilitarista que defende o limite do poder que pode ser exercido legitimamente pela sociedade sobre o indivíduo?

Ou seria Karl Marx que defende o oposto e, para ele, o indivíduo estaria livre a medida que a sociedade se impusesse sobre todos os indivíduos de maneira comum?

É difícil fazer tal julgamento, pois se há alguns mais livres que outros estes outros terão de fato alguma liberdade, ou serão prisioneiros das vontades dos que são verdadeiramente livres?

De outro modo, se a sociedade se impõe ao indivíduo e lhe priva de qualquer tipo de liberdade haveria a possibilidade de se entender que estes indivíduos estariam de fato livres de forma absolutamente idêntica? Haveria sequer a possibilidade se haver realmente uma determinação que tornasse exatamente igualitária as relações de todos os indivíduos com a sua sociedade?

O fato é que os radicalismos nunca se provaram práticos e eficientes como se propunham. Ao mesmo tempo que sociedades democráticas se mostram muito "simpáticas" ao autoritarismo sazonal, as sociedades ditas igualitárias sempre ostentaram poder centralizado e hierarquias rígidas. 

O que fica para a história é a clássica máxima que afirma: "falar é fácil"!

Araújo Neto

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Heráclito, o filósofo obscuro

Entre os anos 540 e 470 a.C., na região de Éfeso, uma pólis grega que fica onde hoje é território da Turquia, circulava um sábio enigmático e complexo. Se nome era Heráclito e ele acreditava que a natureza estava em constante transformação.



Este filósofo ficou famoso pela máxima "Panta Rei", que significa de forma simplificada que tudo flui, tudo se move. Dessa forma a natureza é classificada pelo eterno Devir, ou seja tudo se torna outra coisa, tudo se transforma. Como diria o verso daquela canção, "tudo muda o tempo todo, no mundo"*.

Heráclito de Éfeso é considerado o pai da dialética e foi chamado de " o obscuro", devido à dificuldade de entender suas teorias, inclusive por outros filósofos. 

Para o filósofo de Éfeso tudo era movimento. Tudo se move, exceto o movimento. E
o "devir" que está presente em todas as coisas e é recorrente trata-se de uma alternância entre os contrários, como o quente que esfria, o seco que se molha e vice-versa. 

Assim o pensador conclui que há uma harmonia nessa relação entre opostos, o que se configura como um ciclo que se repete.

Sua passagem mais célebre é o aforismo do rio, no qual o pensador compara tudo às águas de um rio. Tudo flui, como as águas de um rio. E daí formulou o conceito:

"Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai."

— Diels-KranzOs fragmentos dos pré-socráticos, 91

Heráclito foi um pré-socrático da escola jônica. Como tal aderiu à formulação de um elemento primordial. Para a função, ele escolheu o fogo. 

O filósofo de Éfeso também tratou da cosmologia, com base na sua crença de que o fogo gerara todas as outras coisas. Além disso, também propôs um conceito de divino no qual Deus seria não um ser criador e onipotente, mas sim a composição de opostos, como o dia e a noite, a guerra e a paz, etc. 

É mais conhecido pela contraposição com a filosofia de Parmênides. Este considerara a unidade e o imobilismo do ser, uno, eterno e imutável. Esta fora uma das grandes celeumas da história da filosofia ocidental.

Heráclito era um homem sábio e inteligente, porém excessivamente arrogante e antissocial. Conta-se que, em seu tempo, teria se desentendido com os médicos de sua cidade. 

Em dado momento se retirou da vida social e foi viver isolado em uma montanha. 

Aconteceu que ficou doente e decidiu voltar para se tratar. Alguns historiadores acreditam que se trata-se de um edema. 

Como não confiava em médicos, consultou um curandeiro das proximidades, que recomendou que ele se cobrisse com esterco, o que acredita-se que tenha feito. 




Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas após isso o filósofo acabou falecendo. Uns apontam que teria se sufocado no estrume, enquanto outros acreditam que tenha sido devorado por cães famintos. Outros apontam ainda que teria morrido naturalmente em decorrência da sua doença.

O fato é que Heráclito foi um pensador muito influente e é referência ainda hoje, mais de dois séculos após a sua morte!




*Como Uma Onda (Lula Santos e Nelson Motta)!

Araújo Neto

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Quem não gosta de Política?

"Não gosto de política"! 

Muito provavelmente você já ouviu alguém proferir essa frase. Mas será que a pessoa sabia de fato o que estava falando? 



A menos que se tratasse de um anarquista antissocial, provavelmente ela estava enganada. A política nada mais é do que a  ciência que estuda e pratica organização, direção e administração de uma sociedade. 

A própria vida social é uma forma de política, a partir do momento em que todas as suas relações sociais interferem em maior ou menor grau na vida das demais pessoas que fazem parte daquele meio.

O filósofo grego Aristóteles classificou o ser humano como "politikon zoon" , ou  melhor um "animal político". A vida social é uma das características mais marcantes da humanidade em sua existência na Terra.

A espécie humana prosperou no planeta muito em função da sua capacidade organizativa e do uso da coletividade associado à divisão de tarefas. 

Como cada indivíduo tem características diferentes e suas próprias preferências e aptidões peculiares, os trabalhos acabaram sendo divididos conforme essas tendências. 

É muito pouco provável que indivíduos tenham sido autossuficientes o bastante para se perpetuarem na Terra, espalharem seus genes vivendo em absoluta solidão. Se o fizeram, em algum tempo, acabaram sobrepujados pelos que viviam em sociedade e não puderam gerar descendentes. A força do número não pode ser ignorada. 

Iniciar um relacionamento amoroso é parte da política também. É preciso ser político para convencer a outra pessoa que ela deve abrir mão de todos os outros indivíduos para ficar exclusivamente contigo. 

Da mesma maneira, é preciso convencer a todos os outros de que aquela pessoa está exclusivamente contigo. A menos que vocês tenham aderido a uma proposta mais aberta, ou tenham simpatia com ruminantes. 

Mas da ida ao supermercado até o estudo dos astros, tudo tem política envolvida. 

Não confunda o conceito pleno de política com o de eleição. É aí que muita gente se confunde. Obviamente, as eleições em um Estado organizado na forma de governo representativo é a expressão máxima da política civil. 



Mas todas as etapas entre sua casa e a urna são influenciadas por decisões políticas, ou seja organizacionais e sociais, desde o café da manhã que você toma, passando pelo meio de transporte utilizado (coletivo ou individual) e até a urna utilizada, seja a manual, seja a eletrônica. 

Se você continua afirmando que odeia política, sugiro uma heráclita retirada para as montanhas. Só lembrando que o sábio filósofo grego, Heráclito o fez e não acabou muito bem. 

Na próxima semana, vamos contar a história dele e como ele morreu literalmente na ...


Araújo Neto

sexta-feira, 18 de junho de 2021

O que é espectro político

Quando um candidato a um cargo público se apresenta para pedir votos, as pessoas podem se referir a ele como "de esquerda", "de direita" ou "de centro", ou mesmo como um intermediário entre estes. Mas de onde vem essa terminologia?

A dicotomia é relativa ao momento e não é constante no espectro político. 


Em geral as ideologias políticas são enquadradas dentro de uma linha conhecida como "espectro político" que tem como função classificar e caracterizar os diversos pensamentos políticos em relação aos outros. 

Originalmente se via a política em uma linha reta bidimensional, ou seja, com um centro e de um lado a esquerda e de outro a direita como visões diametralmente opostas. 

A maioria dos historiadores apontam a Revolução Francesa como o momento da história em que essaa referência do espectro se popularizou, embora algumas vertentes de pensamento indiquem que essa nomenclatura já era usada bem antes, como na Idade Moderna. 

Algumas lendas relatam que os termos teriam surgido em relação ao Rei, no Antigo Regime que dominou a Europa, no período pós medieval. Os aliados do rei ficariam a sua direita, enquanto seus opositores se posicionariam à esquerda. 

Durante muitos séculos, a lógica foi essa e se identificava a direita como conservadores ou reacionários e sempre em alinhamento com a monarquia e o tradicionalismo, ou mesmo ao retorno à moral monárquica ou imperial. 

Já a esquerda ficaria entre os revolucionários organizados (como comunistas) reformadores (liberais e socialistas) e libertários extremos (anarquistas). 

Entretanto, cientistas políticos contemporâneos avaliam a existência de pensamentos e tendências intermediárias tão diferentes entre si e tão equidistantes dos extremos que esse espectro não pode, ou não deveria ser entendido como linear. 

Análises "geométricas" considerando um espectro político plano ou até esférico vem sendo muito mais utilizadas na contemporaneidade. 

Os próprios conceitos sobre autoritarismo e libertarismo são relativizados e podem ser entendidos como "de esquerda" ou "de direita". 

Hoje, muitos modelos são utilizados para classificar um pensamento ou ideologia política e, ao que parece nenhum parece definitivo, dado que a cada dia outras visões e outras formas de pensar o mundo surgem das mentes mais brilhantes... e dos memes também! 





Araújo Neto

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Nazismo: esquerda ou direita?

Uma das discussões mais comuns travadas em redes sociais na última década foi sobre de qual lado do espectro político, o nazismo e o fascismo estaria. 



Para entender a alocação política do nazismo, precisamos primeiro entender as suas origens e preceitos. Primeiro temos que entender que o nazismo é uma subdivisão do Fascismo, uma ideologia política ultranacionalista e autoritarista, que se caracteriza pelo poder ditatorial e centralizador, pela repressão violenta de opositores e pelo forte controle social e da economia. 

O Fascismo se opôs fortemente ao liberalismo e ao comunismo, ao mesmo tempo que não era favorável ao conservadorismo, embora alianças com setores da direita tradicional tenham sido vistas.

Esta ideologia política aceitava os avanços tecnológicos positivos e científicos, mas propunha a emergência de uma nova classe dominante, baseada na força. 

Já o nazismo é uma forma de fascismo que acrescenta o antissemitismo e o "racismo científico" como doutrina base. 

Sua argumentação se baseava na crença de que o povo germânico pertencia a uma raça mais elevada de seres humanos, a chamada Raça Ariana. 

Sua origem remonta a derrota da Alemanha na primeira guerra mundial e foi influenciada pelos Freikorps, grupos paramilitares que surgiram após o mega evento. 

O nazismo apoiava a noção pseudo-científica da hierarquia racial e do darwinismo social. É comumente referida como o nacional-socialismo pois pretendia se diferenciar radicalmente tanto do capitalismo de livre mercado, quanto do comunismo marxista. 

É nesse ponto que reside a dúvida que cria toda a confusão.

Apesar de se denominar socialismo, é um doutrina nacionalista radical. 

Dessa forma não pode ser vista como associada ao conceito de esquerda, que temos hoje, visto que esta é uma ideia associada ao liberalismo libertário, que defendia exatamente seu inverso: a liberdade individual.

O erro analítico associado ao termo nasce ao tentar se ver a história de trás para frente. Quem analisa a forma de atuação e governo dos nazistas os associa ao modus operandi soviético. 

Isso é perceptível.



Entretanto, é preciso primeiro entender o que foi caracterizado como esquerda, quando este termo se tornou emblemático para tratar da política, entre os séculos XVIII e XIX. 

Por seguinte, devemos entender a busca do governo soviético em influenciar partidos de oposição e esquerda do mundo ocidental, principalmente do chamado "Terceiro Mundo".

Depois, temos que entender como funciona o jogo político da nossa sociedade, na qual as ideias de economia e sociedade se confundem. 

Nesse contexto surge a figura do conservador nos costumes e liberal na economia, que nada mais é do que uma ideologia dos grandes possuidores de capital que guardam publicamente valores tradicionais (ainda que na vida privada façam completamente diferente) visando agradar a opinião pública, principalmente dialogar com os mais pobres, que em geral, tem mais apreço ao conservadorismo social. 

Entretanto, no aspecto econômico propõem menos intervenção do Estado, o que não acontece por moral, ou por crença filosófica, mas apenas na tentativa de pagar menos tributos e aumentar suas margens de lucro. 

Assim, na política econômica reformista da esquerda, as ideias keynesiana (de John Maynard Keynes, economista britânico que defendeu a intervenção do Estado na economia para salvar o capitalismo) se coloca como a ideologia econômica que predomina entre os setores da esquerda. 

Apesar de se colocar como defensora do comunismo marxista, em razão da influência soviética do século XX, a esquerda é na verdade uma versão moderada do liberalismo libertário, com forte tendência reformista,  com pouca inclinação revolucionária.

Considerando estes fatores, o nazismo e o fascismo são facilmente entendidos como teorias de direita. Mas uma direita menos conservadora e mais progressista, no quesito técnico e muito mais reacionária, na questão social, nacional e étnica. 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

As diferenças entre o Utilitarismo e a Ética do Dever.

O utilitarismo é uma corrente de pensamento que prega a máxima de que uma ação é boa à medida em que promovem a felicidade e más quando trazem infelicidade, ao maior número de pessoas possível.



O pensamento utilitarista é regido pelo princípio do bem-estar máximo, que pode ser resumido na frase: “Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar”.

Mais do que apenas uma linha de pensamento, o Utilitarismo foi aplicado à questões concretas, como na política, na economia, nas legislações e foi importante na disseminação de ideias sobre a liberdade sexual e emancipação feminina, no século XIX.

É uma teoria consequencialista, ou seja, as ações propostas devem ter como norte uma finalidade, que será o resultado futuro da ação presente. Em suma, o Utilitarismo é uma moral eudemonista, que busca a felicidade de modo pleno, seja individual ou coletivamente.

Essa teoria tem como base princípios fundamentais como o conceito de bem-estar, a otimização ou a maximização deste conceito, assim como a agregação, a imparcialidade e o universalismo e o racionalismo.

No tocante à agregação, esta pode ser compreendida como o “saldo” final do cálculo da quantidade de bem-estar produzida por uma ação.

Dessa forma, a moral utilitarista é um resultado de um calculo e não baseada em princípios, influenciando decisivamente o pragmatismo, muito abordado na atualidade.

O Utilitarismo acabou sendo muito influente na filosofia do direito penal, uma vez que criticou a pena punitiva que se encerrava no sujeito punido e propunha que as penas produzissem consequências positivas, para toda a sociedade.

Os principais teóricos dessa matéria foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill(1806-1873), considerados os criadores do pensamento. O filósofo liberal David Hume, é considerado um dos precursores do Utilitarismo. A doutrina contou também com a adesão de Jean-Baptiste Say, Condillac , Henry Sidgwick e Willian Godwin, considerado um dos criadores do anarquismo.


Os críticos do Utilitarismo afirmam que a teoria, por ser excessivamente racional, acabou por limitar o individuo a uma unidade autossuficiente, desprezando tanto as relações interdependentes entre eles e as questões acerca dos seus sentimentos.

A incerteza sobre as reais consequências de um ato e a infinitude da cadeia derivada dessas atitudes foram outras questões ignoradas, na elaboração dessa teoria, segundo seus opositores.

As críticas ao utilitarismo também se formam na base conceitual da ética kantiana, que é fundamentada no dever, visto pelo filósofo iluminista alemão Immanuel Kant (1724-1804), como o princípio supremo da moralidade.

Kant desenvolveu sua teoria a partir de um conceito chamado de Imperativo Categórico. Este seria uma lei moral interior ao indivíduo, baseada apenas na razão humana e não possui nenhuma ligação com causas sobrenaturais, supersticiosas ou relacionadas a uma autoridade do Estado ou religiosa.

Esse Imperativo está baseado em três princípios:


1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza.

2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio.

3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais.

Dessa forma, a deontologia kantiana se opõe firmemente à tradição teleológica da ética e, consequentemente aos padrões do utilitarismo.

A ética é uma disciplina que trata da moral e estuda os valores e princípios de um indivíduo ou de um grupo social. Também pode ser vista como conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.

Dessa forma, tanto a deontologia utilitarista, quanto à kantiana podem ser consideradas valores éticos, do ponto de vista filosófico

E você, o que acha sobre a ética?

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Araújo Neto