sexta-feira, 25 de junho de 2021

Quem não gosta de Política?

"Não gosto de política"! 

Muito provavelmente você já ouviu alguém proferir essa frase. Mas será que a pessoa sabia de fato o que estava falando? 



A menos que se tratasse de um anarquista antissocial, provavelmente ela estava enganada. A política nada mais é do que a  ciência que estuda e pratica organização, direção e administração de uma sociedade. 

A própria vida social é uma forma de política, a partir do momento em que todas as suas relações sociais interferem em maior ou menor grau na vida das demais pessoas que fazem parte daquele meio.

O filósofo grego Aristóteles classificou o ser humano como "politikon zoon" , ou  melhor um "animal político". A vida social é uma das características mais marcantes da humanidade em sua existência na Terra.

A espécie humana prosperou no planeta muito em função da sua capacidade organizativa e do uso da coletividade associado à divisão de tarefas. 

Como cada indivíduo tem características diferentes e suas próprias preferências e aptidões peculiares, os trabalhos acabaram sendo divididos conforme essas tendências. 

É muito pouco provável que indivíduos tenham sido autossuficientes o bastante para se perpetuarem na Terra, espalharem seus genes vivendo em absoluta solidão. Se o fizeram, em algum tempo, acabaram sobrepujados pelos que viviam em sociedade e não puderam gerar descendentes. A força do número não pode ser ignorada. 

Iniciar um relacionamento amoroso é parte da política também. É preciso ser político para convencer a outra pessoa que ela deve abrir mão de todos os outros indivíduos para ficar exclusivamente contigo. 

Da mesma maneira, é preciso convencer a todos os outros de que aquela pessoa está exclusivamente contigo. A menos que vocês tenham aderido a uma proposta mais aberta, ou tenham simpatia com ruminantes. 

Mas da ida ao supermercado até o estudo dos astros, tudo tem política envolvida. 

Não confunda o conceito pleno de política com o de eleição. É aí que muita gente se confunde. Obviamente, as eleições em um Estado organizado na forma de governo representativo é a expressão máxima da política civil. 



Mas todas as etapas entre sua casa e a urna são influenciadas por decisões políticas, ou seja organizacionais e sociais, desde o café da manhã que você toma, passando pelo meio de transporte utilizado (coletivo ou individual) e até a urna utilizada, seja a manual, seja a eletrônica. 

Se você continua afirmando que odeia política, sugiro uma heráclita retirada para as montanhas. Só lembrando que o sábio filósofo grego, Heráclito o fez e não acabou muito bem. 

Na próxima semana, vamos contar a história dele e como ele morreu literalmente na ...


Araújo Neto

sexta-feira, 18 de junho de 2021

O que é espectro político

Quando um candidato a um cargo público se apresenta para pedir votos, as pessoas podem se referir a ele como "de esquerda", "de direita" ou "de centro", ou mesmo como um intermediário entre estes. Mas de onde vem essa terminologia?

A dicotomia é relativa ao momento e não é constante no espectro político. 


Em geral as ideologias políticas são enquadradas dentro de uma linha conhecida como "espectro político" que tem como função classificar e caracterizar os diversos pensamentos políticos em relação aos outros. 

Originalmente se via a política em uma linha reta bidimensional, ou seja, com um centro e de um lado a esquerda e de outro a direita como visões diametralmente opostas. 

A maioria dos historiadores apontam a Revolução Francesa como o momento da história em que essaa referência do espectro se popularizou, embora algumas vertentes de pensamento indiquem que essa nomenclatura já era usada bem antes, como na Idade Moderna. 

Algumas lendas relatam que os termos teriam surgido em relação ao Rei, no Antigo Regime que dominou a Europa, no período pós medieval. Os aliados do rei ficariam a sua direita, enquanto seus opositores se posicionariam à esquerda. 

Durante muitos séculos, a lógica foi essa e se identificava a direita como conservadores ou reacionários e sempre em alinhamento com a monarquia e o tradicionalismo, ou mesmo ao retorno à moral monárquica ou imperial. 

Já a esquerda ficaria entre os revolucionários organizados (como comunistas) reformadores (liberais e socialistas) e libertários extremos (anarquistas). 

Entretanto, cientistas políticos contemporâneos avaliam a existência de pensamentos e tendências intermediárias tão diferentes entre si e tão equidistantes dos extremos que esse espectro não pode, ou não deveria ser entendido como linear. 

Análises "geométricas" considerando um espectro político plano ou até esférico vem sendo muito mais utilizadas na contemporaneidade. 

Os próprios conceitos sobre autoritarismo e libertarismo são relativizados e podem ser entendidos como "de esquerda" ou "de direita". 

Hoje, muitos modelos são utilizados para classificar um pensamento ou ideologia política e, ao que parece nenhum parece definitivo, dado que a cada dia outras visões e outras formas de pensar o mundo surgem das mentes mais brilhantes... e dos memes também! 





Araújo Neto

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Nazismo: esquerda ou direita?

Uma das discussões mais comuns travadas em redes sociais na última década foi sobre de qual lado do espectro político, o nazismo e o fascismo estaria. 



Para entender a alocação política do nazismo, precisamos primeiro entender as suas origens e preceitos. Primeiro temos que entender que o nazismo é uma subdivisão do Fascismo, uma ideologia política ultranacionalista e autoritarista, que se caracteriza pelo poder ditatorial e centralizador, pela repressão violenta de opositores e pelo forte controle social e da economia. 

O Fascismo se opôs fortemente ao liberalismo e ao comunismo, ao mesmo tempo que não era favorável ao conservadorismo, embora alianças com setores da direita tradicional tenham sido vistas.

Esta ideologia política aceitava os avanços tecnológicos positivos e científicos, mas propunha a emergência de uma nova classe dominante, baseada na força. 

Já o nazismo é uma forma de fascismo que acrescenta o antissemitismo e o "racismo científico" como doutrina base. 

Sua argumentação se baseava na crença de que o povo germânico pertencia a uma raça mais elevada de seres humanos, a chamada Raça Ariana. 

Sua origem remonta a derrota da Alemanha na primeira guerra mundial e foi influenciada pelos Freikorps, grupos paramilitares que surgiram após o mega evento. 

O nazismo apoiava a noção pseudo-científica da hierarquia racial e do darwinismo social. É comumente referida como o nacional-socialismo pois pretendia se diferenciar radicalmente tanto do capitalismo de livre mercado, quanto do comunismo marxista. 

É nesse ponto que reside a dúvida que cria toda a confusão.

Apesar de se denominar socialismo, é um doutrina nacionalista radical. 

Dessa forma não pode ser vista como associada ao conceito de esquerda, que temos hoje, visto que esta é uma ideia associada ao liberalismo libertário, que defendia exatamente seu inverso: a liberdade individual.

O erro analítico associado ao termo nasce ao tentar se ver a história de trás para frente. Quem analisa a forma de atuação e governo dos nazistas os associa ao modus operandi soviético. 

Isso é perceptível.



Entretanto, é preciso primeiro entender o que foi caracterizado como esquerda, quando este termo se tornou emblemático para tratar da política, entre os séculos XVIII e XIX. 

Por seguinte, devemos entender a busca do governo soviético em influenciar partidos de oposição e esquerda do mundo ocidental, principalmente do chamado "Terceiro Mundo".

Depois, temos que entender como funciona o jogo político da nossa sociedade, na qual as ideias de economia e sociedade se confundem. 

Nesse contexto surge a figura do conservador nos costumes e liberal na economia, que nada mais é do que uma ideologia dos grandes possuidores de capital que guardam publicamente valores tradicionais (ainda que na vida privada façam completamente diferente) visando agradar a opinião pública, principalmente dialogar com os mais pobres, que em geral, tem mais apreço ao conservadorismo social. 

Entretanto, no aspecto econômico propõem menos intervenção do Estado, o que não acontece por moral, ou por crença filosófica, mas apenas na tentativa de pagar menos tributos e aumentar suas margens de lucro. 

Assim, na política econômica reformista da esquerda, as ideias keynesiana (de John Maynard Keynes, economista britânico que defendeu a intervenção do Estado na economia para salvar o capitalismo) se coloca como a ideologia econômica que predomina entre os setores da esquerda. 

Apesar de se colocar como defensora do comunismo marxista, em razão da influência soviética do século XX, a esquerda é na verdade uma versão moderada do liberalismo libertário, com forte tendência reformista,  com pouca inclinação revolucionária.

Considerando estes fatores, o nazismo e o fascismo são facilmente entendidos como teorias de direita. Mas uma direita menos conservadora e mais progressista, no quesito técnico e muito mais reacionária, na questão social, nacional e étnica. 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

As diferenças entre o Utilitarismo e a Ética do Dever.

O utilitarismo é uma corrente de pensamento que prega a máxima de que uma ação é boa à medida em que promovem a felicidade e más quando trazem infelicidade, ao maior número de pessoas possível.



O pensamento utilitarista é regido pelo princípio do bem-estar máximo, que pode ser resumido na frase: “Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar”.

Mais do que apenas uma linha de pensamento, o Utilitarismo foi aplicado à questões concretas, como na política, na economia, nas legislações e foi importante na disseminação de ideias sobre a liberdade sexual e emancipação feminina, no século XIX.

É uma teoria consequencialista, ou seja, as ações propostas devem ter como norte uma finalidade, que será o resultado futuro da ação presente. Em suma, o Utilitarismo é uma moral eudemonista, que busca a felicidade de modo pleno, seja individual ou coletivamente.

Essa teoria tem como base princípios fundamentais como o conceito de bem-estar, a otimização ou a maximização deste conceito, assim como a agregação, a imparcialidade e o universalismo e o racionalismo.

No tocante à agregação, esta pode ser compreendida como o “saldo” final do cálculo da quantidade de bem-estar produzida por uma ação.

Dessa forma, a moral utilitarista é um resultado de um calculo e não baseada em princípios, influenciando decisivamente o pragmatismo, muito abordado na atualidade.

O Utilitarismo acabou sendo muito influente na filosofia do direito penal, uma vez que criticou a pena punitiva que se encerrava no sujeito punido e propunha que as penas produzissem consequências positivas, para toda a sociedade.

Os principais teóricos dessa matéria foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill(1806-1873), considerados os criadores do pensamento. O filósofo liberal David Hume, é considerado um dos precursores do Utilitarismo. A doutrina contou também com a adesão de Jean-Baptiste Say, Condillac , Henry Sidgwick e Willian Godwin, considerado um dos criadores do anarquismo.


Os críticos do Utilitarismo afirmam que a teoria, por ser excessivamente racional, acabou por limitar o individuo a uma unidade autossuficiente, desprezando tanto as relações interdependentes entre eles e as questões acerca dos seus sentimentos.

A incerteza sobre as reais consequências de um ato e a infinitude da cadeia derivada dessas atitudes foram outras questões ignoradas, na elaboração dessa teoria, segundo seus opositores.

As críticas ao utilitarismo também se formam na base conceitual da ética kantiana, que é fundamentada no dever, visto pelo filósofo iluminista alemão Immanuel Kant (1724-1804), como o princípio supremo da moralidade.

Kant desenvolveu sua teoria a partir de um conceito chamado de Imperativo Categórico. Este seria uma lei moral interior ao indivíduo, baseada apenas na razão humana e não possui nenhuma ligação com causas sobrenaturais, supersticiosas ou relacionadas a uma autoridade do Estado ou religiosa.

Esse Imperativo está baseado em três princípios:


1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza.

2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio.

3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais.

Dessa forma, a deontologia kantiana se opõe firmemente à tradição teleológica da ética e, consequentemente aos padrões do utilitarismo.

A ética é uma disciplina que trata da moral e estuda os valores e princípios de um indivíduo ou de um grupo social. Também pode ser vista como conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.

Dessa forma, tanto a deontologia utilitarista, quanto à kantiana podem ser consideradas valores éticos, do ponto de vista filosófico

E você, o que acha sobre a ética?

Siga nosso blog e se inscreva em nosso canal:




Araújo Neto