Quando um candidato a um cargo público se apresenta para pedir votos, as pessoas podem se referir a ele como "de esquerda", "de direita" ou "de centro", ou mesmo como um intermediário entre estes. Mas de onde vem essa terminologia?
A dicotomia é relativa ao momento e não é constante no espectro político.
Em geral as ideologias políticas são enquadradas dentro de uma linha conhecida como "espectro político" que tem como função classificar e caracterizar os diversos pensamentos políticos em relação aos outros.
Originalmente se via a política em uma linha reta bidimensional, ou seja, com um centro e de um lado a esquerda e de outro a direita como visões diametralmente opostas.
A maioria dos historiadores apontam a Revolução Francesa como o momento da história em que essaa referência do espectro se popularizou, embora algumas vertentes de pensamento indiquem que essa nomenclatura já era usada bem antes, como na Idade Moderna.
Algumas lendas relatam que os termos teriam surgido em relação ao Rei, no Antigo Regime que dominou a Europa, no período pós medieval. Os aliados do rei ficariam a sua direita, enquanto seus opositores se posicionariam à esquerda.
Durante muitos séculos, a lógica foi essa e se identificava a direita como conservadores ou reacionários e sempre em alinhamento com a monarquia e o tradicionalismo, ou mesmo ao retorno à moral monárquica ou imperial.
Já a esquerda ficaria entre os revolucionários organizados (como comunistas) reformadores (liberais e socialistas) e libertários extremos (anarquistas).
Entretanto, cientistas políticos contemporâneos avaliam a existência de pensamentos e tendências intermediárias tão diferentes entre si e tão equidistantes dos extremos que esse espectro não pode, ou não deveria ser entendido como linear.
Análises "geométricas" considerando um espectro político plano ou até esférico vem sendo muito mais utilizadas na contemporaneidade.
Os próprios conceitos sobre autoritarismo e libertarismo são relativizados e podem ser entendidos como "de esquerda" ou "de direita".
Hoje, muitos modelos são utilizados para classificar um pensamento ou ideologia política e, ao que parece nenhum parece definitivo, dado que a cada dia outras visões e outras formas de pensar o mundo surgem das mentes mais brilhantes... e dos memes também!
Anarquia é um termo que vem Do grego antigo ἀναρχία (anarkhia) e significaria algo como anular o governo, ou sociedade sem governo.
A doutrina política e social que defende a anarquia é chamada de Anarquismo. Essa ideologia se opõe a todo tipo de hierarquia e dominação, seja ela política, econômica, social ou cultural, como o Estado, o capitalismo, as instituições religiosas, o racismo e o patriarcado.
Os anarquistas defendem a socialização da propriedade privada dos meios de produção como um aspecto central na defesa da autogestão econômica. Esse sistema político é baseado na negação do princípio da autoridade.
Sua origem está nas ideias iluministas de Rousseau e no socialismo de Marx e Engels. O anarquismo lutava para construir uma sociedade onde ninguém precisaria de dirigentes para saber aquilo que se deve fazer. Não é, em absoluto, sinônimo de caos.
O anarquismo surge no século XIX, proposto pelo filósofo e
político inglês William Godwin, que viveu entre 1756 e 1836. Ele sugere um novo sistema político e
econômico distinto do capitalista liberal que imperava desde a Revolução
Industrial.
Godwin era um utilitarista, ou seja, defendia uma teoria
consequencialista, que afirma que a ação é boa quando tendem a promover a
felicidade e más quando tendem a promover o oposto, tratando-se de uma moral
eudemonista, que defende a plena liberdade.
O anarquismo, entre 1868 e 1894, já havia se desenvolvido significativamente e também havia sido difundido globalmente. Até 1949, a doutrina exerceu grande influência entre os movimentos operários e revolucionários.
Os seus principais pensadores foram Mikhail Bakunin e Pierre-Joseph
Proudhon.
Bakunin era russo de nascimento e participou de movimentos sociais ao lado de Karl Marx,no início de sua carreira como ativista. Visto como um agitador e extremamente radical, o anarquista logo se desentendeu com a ala comunista do movimento operário e provocando vários atritos, com os mesmos.
Em sua perspectiva política, Bakunin rejeitou todos os sistemas de governo fossem qual fossem o seu formato. De forma similar, rejeitou a noção de quaisquer posições ou classes privilegiadas,
A forma de socialismo tal qual a concebia Bakunin era conhecida como "anarquismo coletivista", condição na qual os trabalhadores poderiam administrar diretamente os meios de produção através de suas próprias associações produtivas.
Ele entendia que a organização da sociedade deveria se dar da base até o topo, ou da circunferência ao centro, de acordo com os princípios de livre associação e federação, o que ele chamou de Federalismo!
Bakunin foi severo nas críticas aos marxistas. Embora tenha
sido parceiro de Karl Marx, no início, criou várias contendas posteriores e
acabou sendo um dos líderes de um movimento ainda mais radical que criou o
anarcosocialismo.
Para ele, todas as formas de governo levariam a opressão e,
sobre os marxistas chegou a afirmar a seguinte frase:
“Eles defendem que nada além de uma ditadura - a ditadura
deles, é claro - pode criar o desejo das pessoas, enquanto nossa resposta para
isso é: Nenhuma ditadura pode ter qualquer outro objetivo para além de sua
autoperpetuação, ela pode apenas levar à escravidão o povo que tolerá-la; a
liberdade só pode ser criada através da liberdade, isto é, por uma rebelião
universal de parte das pessoas e organização livre das multidões de trabalhadores
de baixo para cima.”
Bakunin foi, posteriormente, criticado pela concepção de
revolução violenta que defendia.
Suas principais obras foram:
Die Reaktion in Deutschland (A Reação na Alemanha) – 1842
O Império Knuto-Germânico e a Revolução Social - 1871
A Comuna de Paris e a Noção de Estado - 1871
Federalismo, Socialismo e Antiteologia – 1872
Estatismo e Anarquia (Gosudarstvennost' i anarkhiia/Staatlichkeit und Anarchie) – 1873
Textos Anarquistas - 1874
Deus e o Estado – 1882
(Fonte: Wikipedia.org)
Já Pierre-Joseph Proudhon foi um filósofo político e econômico francês, foi membro do Parlamento Francês e primeiro grande ideólogo a se auto intitular anarquista, no Século XIX.
Assim como Bakunin, Proudhon participou ativamente dos movimentos operários do século XIX, em princípio ao lado dos comunistas e marxistas. Mas a ruptura foi inevitável.
O debate entre Marx e Proudhon se deu por trocas de escritos
literários, tendo o anarquista escrito “A Filosofia da Miséria”, enquanto o
comunista lhe respondera com “A Miséria da Filosofia”.
Suas obras foram:
O que é a Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo (1840)
Aviso aos Proprietários (1842)
Sistema das Contradições Econômicas, ou A Filosofia da Miséria (1846)
A Ideia Geral de Revolução no Século XIX(General Idea of the Revolution in the Nineteenth Century, (1851)
Le manuel du spéculateur à la bourse (2012)
De la justice dans la révolution et dans l'Eglise (1858)
La Guerre et la Paix (2012)
Do Princípio Federativo (1863)
De la capacité politique des classes ouvrières (1865)
Théorie de la propriété (2012)
Théorie du mouvement constitutionnel (2012)
Du principe de l'art (2012)
Correspondences (2012)
(Fonte: Wikipedia.org)
Iain McKay apontou uma divisão entre o anarquismo
individualista, representado por autores como Stirner e Tucker,
e o anarquismo social, representado por autores como Bakunin e Kropotkin.
Johann Kaspar Schmidt, mais conhecido como Max Stirner, foi um filósofo alemão muitas vezes visto como um dos precursores do niilismo, do existencialismo, da teoria psicanalítica, do pós-modernismo e do anarquismo, especialmente do anarquismo individualista.
Benjamin Tucker foi o principal defensor americano do anarquismo individualista e do anarquismo americano no século XIX Foi editor do periódico anarquista americano Liberty.
Piotr Alexeyevich Kropotkin foi um geógrafo, economista, cientista político, sociólogo, zoólogo, historiador, filósofo e ativista político russo, um dos principais pensadores do anarquismo no fim do século XIX, considerado também o fundador da vertente anarco-comunista.
Haveria para McKay duas correntes maiores de anarquismo
aquelas relativas à estratégia — com os primeiros priorizando a educação e a
propaganda e os segundos priorizando as intervenções econômicas e políticas na
busca por uma revolução — e aquelas relativas à economia de uma possível
sociedade futura baseada nos princípios libertários.
Após a segunda guerra mundial, o poder político, econômico e
militar da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas acabou por dominar todos
os movimentos, outorgando o seu viés de socialismo ou comunismo e extirpando os
anarquistas deste meio.
As ideias anarquistas retornam a ter força no final da
década de 1970, quando o movimento Punk ganha o Reino Unido. Embora nem todo
punk seja necessariamente anarquista, a ideologia foi propagada e defendida por
muitos seguidores deste movimento, que aliou uma estética chocante com um
movimento musical baseado em músicas agressivas, com temáticas contestadoras.
O punk se baseava nas ideias de liberdade máxima e seu lema
é o “faça você mesmo”. O pensamento anarquista tem um papel importante na
cultura punk, assim como o punk teve uma influência significativa no anarquismo
contemporâneo.
A maior influência literária no período talvez tenha sido Giovanni
Baldelli, escritor italiano, que publicou suas obras nos Estados Unidos e na
Inglaterra, no início da década de 70.
No campo político-econômico se convencionou aceitar uma
corrente chamada de anarco-capitalismo, que seria uma radicalização do
liberalismo econômico e do neoliberalismo. Essa corrente defende o fim do
Estado político e o livre mercado, mas com a continuidade da propriedade
privada.
Anarcocapitalismo é uma filosofia política capitalista que pretende a eliminação do Estado e a proteção à soberania do indivíduo através da propriedade privada e do mercado livre.
Há um outro conjunto de ideias que por vezes se mistura e se
confunde com o anarquismo, o chamado libertarianismo ou libertarismo. Esta é
uma filosofia política e movimento que defende a liberdade como um princípio
central.
Os libertários compartilham um ceticismo em relação à autoridade e ao
Estado, mas divergem no escopo de sua oposição aos sistemas políticos e
econômicos.
Enfim, entendemos que foram desenvolvidas diversas interpretações para o termo anarquia e seu derivado anarquismo. Algumas delas são conflitantes e até antagônicas.
O importante é que todas conservam a ideia central de que a anarquia consiste na ausência de controle, em alguma escala.
Aplica-se o termo à qualquer perspectiva de liberdade extrema, seja política, econômica, social etc.
Muito obrigado por ter lido. Esperamos ter ajudado a ampliar seu entendimento, assim como ampliamos o nosso, ao realizar esta pesquisa.
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