sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

POR QUE A INVEJA É O PIOR DOS SETE PECADOS CAPITAIS?



Segundo a doutrina bíblica cristã, existem sete pecados dos quais todos os demais derivam e, por este motivo são chamados de "Pecados Capitais".




A ideia é que os sete sejam igualmente danosos e prejudiciais, sendo a razão de todos os outros pecados e a raiz da decadência humana, na Terra. 

Entretanto, socialmente vemos uma certa aceitação e até estímulos para alguns pecados enquanto alguns outros são colocados como absolutamente inaceitáveis. Ou no caso, um outro, especificamente.

Esta interpretação social nada tem a ver com as doutrinas religiosas primitivas e mais a ver com o desenvolvimento social e material pelo qual a sociedade humana passou ao longo dos milênios que  seguiram à convenção Bíblica. 

Lembremos dos sete: Ira, Gula, Avareza, Preguiça, Luxúria, Cobiça e Inveja. Falemos uma por uma, como são vistas pela sociedade:

A Ira é bem contestada em seguimentos considerados mais elevados, em meios acadêmicos ou em instituições religiosas mais sérias. Socialmente têm-se uma dualidade, geralmente associada a interpretação individual que muitas vezes fazemos sobre tudo: Quando sou eu que faço está certo! Quando são outros está errado!" 

Mas não é apenas isso. A fúria, cólera ou ira pode ser justificável, em muitos conceitos sociais. E pode ser até juridicamente tipificada em dados momentos e alguns lugares. Não podemos esquecer da terminologia jurídica brasileira dos anos de 1940 que exemplificou a "legítima defesa da honra", justificativa de defesa que evocava a liberdade de matar a cônjuge infiel ou seu amante, em uma demonstração de ira bem exemplificada. 

A Gula é criticada, mais por pais ou por médicos. No meio social é vista até com certo humor e muitas vezes é razão de status. No meio dos homens, o que come mais ou bebe mais pode ser mais respeitado. Entre as mulheres, a gulosa que não engorda é vista com "admiração" (semente da inveja) pelas outras. 

A Avareza também pode ser razão de piadas, principalmente associadas a alguns povos. Em alguns lugares e para algumas profissionais, ela é até que deva ser estimulada. É claro que deve se ter a justa medida, um limite entre o necessário e o exagero. Mas quando se propaga que "dinheiro não é de quem ganha, é de quem não gasta" nunca sabemos como essa frase vai impactar no mente de quem a ouve. 

A preguiça é criticada por quem mete a mão na massa. Mas é valorizada por quem vive de renda. Nesse pecado, assim como na Ira, o errado é quando os outros fazem. O "eu" sempre tem os seus motivos. 

Quando está aquele calor exagerado e estamos na cadeira de praia, ou quando o frio lá fora é intenso, todos nós temos bons argumentos para justificar nossa falta de vontade de agir. E, nesses momentos contamos com a imediata compreensão dos outros.

A Luxúria também tem a sua dualidade. Ela é altamente criticada por setores mais conservadores, quando o agente do pecado é do sexo feminino e/ ou alguém homossexual. Quando é do sexo masculino e heterossexual ela é estimulada e respeitada pela maioria.  É como na questão "chave x fechadura". E aceitamos incólumes essa lógica. 

No caso da Cobiça vemos um pecado que mudou com o tempo. Em uma sociedade materialista, na qual o sucesso material é estimulado e razão das estratificações sociais, a cobiça é criticada com muita parcimônia. 

Em certos casos, a crítica a ela é trocada pela sua valorização. Em um mundo em que o conceito de meritocracia tão deturpado torna-se cada vez mais disseminado, um indivíduo que não tem algum nível razoável de cobiça tende a não crescer na vida e terminar materialmente insatisfeito. 

Mas é preciso cobiçar aquilo que não pertence a ninguém. É claro que ela é louvada quando a cobiça não está sobre o que é dos outros. Aí se torna Inveja. 

E a Inveja é o pior dos pecados. A razão, praticamente já foi citada acima. Em uma sociedade em que o sucesso material é a razão da hierarquia social e as regras morais são determinadas por que está no topo dessa hierarquia, a cobiça do bem alheio deve ser execrada ao máximo. 



Afinal, se estou no topo da pirâmide social como efeito do meu acúmulo de bens materiais, de modo algum vou aceitar que alguém fora do meu círculo deseje o que tenho. No fim das contas, é uma relação de poder. 

Enfim, a relação entre a sociedade e os pecados capitais é mais um exemplo de como a moral social é determinada pelos detentores do poder social que serve sempre como uma forma ideológica de justificação de quem manda e a imposição moral e social a quem está fora da esfera de poder. 


Araújo Neto