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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A Utopia - Thomas Morus

Thomas Morus era um cara diferente. Além de pensador e filósofo foi um estadista, advogado e legislador, que entre 1529 e 1532 ocupou o cargo de Lard Chancellor (Chanceler do Reino) durante o Reinado do polêmico monarca Henrique VIII.




Em 1516, Morus escreveu e publicou sua obra prima: A Utopia. O termo foi uma criação do próprio Thomas, que uniu os termos "Ou" que indica negação , "Topus" , que dá ideia de lugar e "ía", que é qualidade de um Estado. 

Utopia então significaria algo como "Em lugar Nenhum" e foi o título do livro no qual o escritor descreveu um lugar maravilhoso, paradisíaco no Novo Mundo recém descoberto, onde as pessoas viviam felizes e tinham completo desapego material. 

Nele, o soberano Utopus organizava a sociedade a fim de que todos dividissem seus bens materiais ao ponto em que não sobrasse nem faltasse nada de básico para os cidadãos daquele fantasioso reino.

Na época da conquista da América, pelos europeus, muitos relatos de cidades fantásticas e esplendorosas corriam o Velho Continente, como o "Eldorado" e mesmo a possível descoberta da Atlântida! Utopia entra nesse contexto sendo um relato conscientemente fictício que serviu como uma veemente crítica da sociedade europeia daquele tempo e o domínio do ouro.

Não é difícil se entender porque Morus foi decapitado a mando do próprio Rei Henrique VIII.



Além de sua defesa de um comunismo humanista e idealista, que se tornou referência para as classificações que seguiram às revolução liberais, Morus ainda se manteve fortemente ligado ao catolicismo, mesmo após a Reforma Anglicana, promovida pelo rei, que o mandou decapitar. 

A Utopia se tornou uma referência muito controversa na literatura política e utópico se tornou um adjetivo muito comum, quando os poderosos rejeitam qualquer teoria que conteste seus poderes.

Araújo Neto

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Socialismo e Comunismo


Socialismo e comunismo são vistos como sinônimos, atualmente e integrados ao que se chama de viés político de esquerda. Entretanto, muitas das atribuições que os termos têm recebido atualmente podem ser equivocadas e até antagonizam com os conceitos originais que formaram essas teorias. 

Por que? Vamos ver neste artigo!

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Nesta semana, estaremos falando um pouco sobre o Socialismo e Comunismo.

Os termos socialismo e comunismo despertam mais do que entendimento e compreensão técnica. Essas nomenclaturas invocam hoje sentimentos extremos, de amor e ódio, se aproximando de um entendimento quase religioso, para seus adeptos. 

Seu defensores e seus críticos têm em comum a dificuldade de refletir criticamente sobre os conceitos que envolvem e, em função desse caráter impositivo, há uma discrepância muito grande entre correntes que se intitulam dessa forma e as teorias que defendem em comparação à história de outras correntes que se autoproclamaram socialistas e/ou comunistas. 

É importante citar, que os termos não representam exatamente sinônimos, embora possam ser consecutivos e congruentes, em muitos casos, mas não necessariamente sempre. 

Essa celeuma se deve em grande parte à forte influência que o Marxismo, principal corrente comunista teve no mundo a partir da segunda metade do século XIX. A doutrina foi elaborada pelos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, em meados do Século XIX. 

Seus inventores imaginaram criar uma teoria com bases científicas a partir da história, da economia e da sociologia, para justificar a transformação social através do comunismo, alcançado através de uma revolução popular. 

Segundo defendiam, os trabalhadores eram quem de fato produziam a riqueza. Estes eram, porém, expropriados do máximo retorno, pelos capitalistas, os donas das grandes indústrias, através do processo que denominaram "mais - valia". 

Esta seria a diferença entre o que produz o operário e o que fica para o capitalista. Enquanto este recebe os lucros, aquele fica com o salário, que seria a expressão máxima da Mais Valia e combatido com veemência pela dupla de pensadores. 

Embora hoje em dia muita gente opine sobre o tema e se ache entendedora do assunto, podemos afirmar que a maioria esmagadora das afirmações feitas sobre o tema ou são falsas ou estão redondamente enganadas.

Marx e Engels não foram os primeiros comunistas/socialistas. Ao contrário, faziam parte de associações de socialistas, que existiam bem antes deles. Muito menos o conceito de coletivismo fora criado por eles. Na verdade, Marx e Engels eram industriais burgueses, que criticavam o que consideravam ser uma extrema exploração dos operários por parte dos industriais.

Sua doutrina não era anticapitalista, mas pressuponha sua superação. Apesar de admitir os benefícios trazidos pela sociedade industrial burguesa, os filósofos alemães pretendiam estender as benesses da indústria àqueles que de fato punham a mão na massa: os trabalhadores.

Como dito anteriormente eles faziam parte de um grupo cada vez mais numeroso na Europa do século XIX de trabalhadores e teóricos que defendiam uma transformação radical da sociedade. A Europa do Século XIX passava por muitas turbulências políticas e sociais derivadas do período revolucionário do final do século anterior.

Muitas outras propostas surgiram na mesma época buscando criar ou recuperar algum tipo de ordem social, como o Positivismo, do filósofo-religioso francês Auguste Comte. Hoje, o positivismo influencia de certo modo algumas correntes associadas ao socialismo e comunismo, uma vez que defende a ordem e a ciência para o progresso social.

Marx e Engels seriam mais uma voz, na multidão a não ser por uma perspectiva que os diferenciava dos demais: a prática revolucionária e a organização partidária. Ambos não ficavam em seus escritórios somente escrevendo e publicando textos, mas se reuniam com correligionários e agitavam ações diretas em busca da finalidade de suas obras.

Os principais livros da dupla forma o "Manifesto do Partido Comunista", escrito em conjunto por ambos, "O Capital", "A Ideologia Alemã" e "A Questão Judaica" de Marx, além de "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", de Engels. 

Seus escritos foram influenciados por algumas teorias às quais chamaram de “utópicas”. O termo utópico advém da obra de Thomas More (Morus – latinizado), um filósofo, advogado, escritor e estadista inglês que viveu entre 1478 e 1535 e escreveu o que talvez seja a primeira obra escrita do ocidente a tratar de uma forma de coletivização ou comunismo, na modernidade: A Utopia.



Na obra, More relata a visita de um europeu à fictícia nação de Utopia, onde o soberano Utopus governava com serenidade e sabedoria e todas as coisas pertenciam a todos e ninguém era dono de nada. 

Os relatos de More, sobre a tal terra fictícia envolvia não só a defesa do desapego de bens materiais, mas invadia o terreno da liberdade religiosa. Morus terminou enforcado e decapitado, por defender a Igreja Católica, contra a revolução anglicana, de Henrique VIII.

Apesar de parecer avançado, este conceito se aproximava tanto da noção de que a terra era de Deus, ideia já presente na filosofia medieval, assim como já vista no Livro Bíblico “Atos dos Apóstolos”. Este último, inclusive apontado com um dos primeiros relatos utópicos pelos autores marxistas.

Em “Atos” podemos ler a afirmação, que diz:

“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum” – Atos 2-44 (bíblia online – versão católica).

Antes deles, porém, segundo alguns historiadores e estudiosos do judaísmo, um grupo de judeus radical vivia fora das cidades, em cavernas e não possuíam bens materiais e viviam de estudar a Torá e aguardar a chegada do Messias. Esse grupo era conhecido como “Essênios” e, para alguns estudiosos, desta seita é que teria saído João Batista.

Outras tribos primitivas tanto na América, quanto na África, na Ásia e na Oceania permaneceram por muitos séculos em estado primitivo, vivendo sem a existência da sociedade privada, embora a associação com alguma forma de comunismo possa ser considerada um tanto forçada.

No século XIX outras teorias socialistas surgiram na Europa. Na maior parte, essas ideias eram originadas no humanismo, no iluminismo e no liberalismo, sendo derivações naturais desta última, principalmente.

Claude-Henri Rouvroy, mais conhecido como Conde de Saint-Simon criou uma ideologia política, que ficou conhecida como sansimonismo. Segundo esta doutrina, todas as pessoas envolvidas no processo produtivo deveriam compor uma classe industrial deveriam ter suas necessidades reconhecidas e satisfeitas para que houvesse uma economia eficiente.

Defendia assim, um socialismo tecnocrático em contraposição aos que chamava de “parasitas” da sociedade, pessoas que se recusavam a trabalhar e produzir. Essa doutrina surge com força em oposição ao processo de restauração europeia, um movimento através do qual as monarquias tentavam recuperar o poder perdido após a expansão do Império Napoleônico.

François Marie Charles Fourier propôs a criação de unidades de produção e consumo independentes, às quais chamou de “Falanstérios”, ou falanges. Essas unidades se organizavam na forma de cooperativas auto suficientes. Também defendia a liberdade individual e a igualdade entre os gêneros masculino e feminino, ao mesmo tempo em que criticava a civilização urbana, o matrimônio, a monogamia e o liberalismo. Considerado um sátiro, Fourier costumeiramente transcendia o caráter economicista dos demais socialistas.

Louis Jean Joseph Charles Blanc, mais conhecido como Louis Blanc defendera a criação de associações profissionais de trabalhadores de um mesmo ramo e de Oficinas nacionais, financiadas pelo Estado, nas quais os lucros deveriam ser divididos entre trabalhadores e o Estado.

Defendeu a República contra a Monarquia, participando ativamente da Revolução de 1848 e teve suas ideias postas em prática na França. Sua jornada no socialismo começara após a Revolução de 1830, que fez a sua família ficar falida.

Robert Owen, industrial inglês que propôs a organização dos trabalhadores em cooperativas é considerado o pai do termo socialismo. Primeiramente defensor do utilitarismo e do liberalismo, seu trabalho na indústria o fez se aproximar do socialismo e, para muitos é o criador da teoria. Além disso, apoiava enormemente a educação e a reforma do trabalho.

Para ele ninguém era responsável por sua vontade. O ser humano é fruto de sua genética e do meio em que vive. Dizia também que toda religião se baseia na ideia de que o homem é um animal fraco, imbecil e fanático, por isso se manteve afastados delas. Até que aos 83 anos se converteu ao Espiritualismo e defendeu que a humanidade deveria se preparar para a paz universal e difundir o espírito do amor, da caridade e da tolerância.

Pierre-Joseph Proudhon foi o primeiro a se autoproclamar anarquista. Proudhon teve célebres debates com Marx, por quem fora chamado de utópico. Escreveu "A Filosofia da Miséria" , sua obra mais importante que recebeu duras críticas de seu adversário comunista. Assim, Marx o rebateu escrevendo "A Miséria da Filosofia", onde criticou a falta de ação dos anarquistas.

É curioso perceber que também o termos anarquia e anarquismo sofrem com as deturpações contemporâneas. Primeiramente apresentados no meio dos operários, o termo, hoje foi adotado como uma criação ideológica para defender grandes capitalistas, contra a ação tributária Estatal. 

Há ainda o socialismo Fabiano, concebido pela Sociedade Fabiana, que se propõe a preparar a classe operária para chegar ao poder. Diferentemente dos Marxistas, os Fabianos são contra a revolução e acreditam na gradual evolução social. Seu símbolo é uma tartaruga.

De certa forma, os comunistas e socialistas conseguiram chegar o poder em alguns lugares. A evolução do que se chamou “Social-Democracia” fez surgir um entendimento de assistencialismo estatal, que estaria necessariamente ligado ao termo socialismo, o que não é completamente correto, como apontamos no relato.

Por outro lado, os marxistas revolucionários conseguiram chegar ao poder, primeiramente na Rússia, em 1917, suplantando a revolução liberal-democrata, que acontecera meses antes, no mesmo ano.

Os marxistas já tinham se organizado duas vezes no que se chamou de Internacional Comunista, ou Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). A primeira foi em 1876 e contou com a presença de Marx e Engels, além de anarquistas, reformistas e defensores das diversas correntes de ideias do movimento operário. A segunda em 1889, foi organizada por Engels.

A terceira acontece em 1919, já na União Soviética, o primeiro Estado a se assumir marxista, propriamente dito. Após a escalada de Stalin ao poder, essa associação passa a defender que os partidos comunistas e trabalhistas no mundo inteiro adiram às causas das minorias, para que, no somatório se tornassem numerosos em adeptos, pois entendiam que a maioria é a soma das minorias.

O resultado da União Soviética foi uma generalização das teorias anteriores amalgamadas de forma abrupta em um modelo que ficou conhecido como “Socialismo de Estado”, o qual acabou sendo chamado por socialistas e comunistas que lhe eram contrários de Capitalismo de Estado. Nele, o Estado é o único com autoridade para empreender e toda iniciativa econômica depende dele, sendo ao mesmo tempo assistencialista e taxador de tributos, excessivamente.

O Estado Soviético se torna forte e intervencionista nas mínimas coisas, ficando tão opulento quanto o Império Russo Czarista, o qual Lênin tratou de derrubar. Da mesma forma, os movimentos sociais ligados à AIT, agora sob o comando dos soviéticos passa a defender igualdade entre os gêneros e os direitos dos homossexuais.

O curioso é que, durante o século XIX, os movimentos operários consideraram uma vitória o fim da obrigação do trabalho feminino nas indústrias, enquanto o do século XX defendia a oportunidade de trabalho para a mulher.

Assim como Marx pautou toda sua obra na visão de que o trabalhador não tendo propriedades materiais teria como único bem a sua capacidade de reprodução. Por isso deu à essa classe o nome de proletariado, exatamente porque sua única fonte de riqueza era gerar descendentes que faziam com que a classe se tornasse numerosa e por isso guardaria em seu interior o futuro do mundo, tendo a força necessária para fazer a revolução.

Exatamente nesse ponto vem o contrassenso do esquerdismo atual, que defende exatamente o aborto e outras formas de planejamento familiar a fim de ajudar num controle populacional. Mar provavelmente não gostaria muito dessa defesa. 

O esquerdismo, por sua vez é geralmente associado ao socialismo e ao comunismo. Entretanto, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos, hoje, o que se chama de esquerda política tem muito mais relação com o desenvolvimento da ala social do liberalismo do que com alguma proposta marxista, comunista ou socialista. 

Uma das confusões que normalmente aparecem é em relação à presença e atuação do Estado. Marx e Engels pressupunham que o Estado é um instrumento dos capitalistas para controlar a sociedade e manter a ordem econômica nela inscrita. 

A esquerda política, em geral defende um Estado forte e atuante, além de assistencialista, se afastando amplamente dos conceitos originários que foram primeiramente associados ao comunismo e ao socialismo. 

Em sua história, o comunismo/socialismo nasce liberal-anarquista, evolui para o reformismo e termina em um estatismo imperialista.

Na próxima semana falaremos mais a fundo sobre Anarquismo.

Muito Obrigado, por sua leitura! Valeu!