Socialismo e comunismo são vistos como sinônimos, atualmente e integrados ao que se chama de viés político de esquerda. Entretanto, muitas das atribuições que os termos têm recebido atualmente podem ser equivocadas e até antagonizam com os conceitos originais que formaram essas teorias.
Por que? Vamos ver neste artigo!
Olá! Seja bem-vindo ao Semanário
do Pensamento.
Se inscreva no canal para que
possamos fazer mais pesquisas sobre temas relacionados à filosofia, ao
pensamento, à ciência e ao racionalismo:
Nesta semana, estaremos falando um pouco sobre o Socialismo e Comunismo.
Os termos socialismo e comunismo despertam mais do que entendimento e compreensão técnica. Essas nomenclaturas invocam hoje sentimentos extremos, de amor e ódio, se aproximando de um entendimento quase religioso, para seus adeptos.
Seu defensores e seus críticos têm em comum a dificuldade de refletir criticamente sobre os conceitos que envolvem e, em função desse caráter impositivo, há uma discrepância muito grande entre correntes que se intitulam dessa forma e as teorias que defendem em comparação à história de outras correntes que se autoproclamaram socialistas e/ou comunistas.
É importante citar, que os termos não representam exatamente sinônimos, embora possam ser consecutivos e congruentes, em muitos casos, mas não necessariamente sempre.
Essa celeuma se deve em grande parte à forte influência que o Marxismo, principal corrente comunista teve no mundo a partir da segunda metade do século XIX. A doutrina foi elaborada pelos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, em meados do Século XIX.
Seus inventores imaginaram criar uma teoria com bases científicas a partir da história, da economia e da sociologia, para justificar a transformação social através do comunismo, alcançado através de uma revolução popular.
Segundo defendiam, os trabalhadores eram quem de fato produziam a riqueza. Estes eram, porém, expropriados do máximo retorno, pelos capitalistas, os donas das grandes indústrias, através do processo que denominaram "mais - valia".
Esta seria a diferença entre o que produz o operário e o que fica para o capitalista. Enquanto este recebe os lucros, aquele fica com o salário, que seria a expressão máxima da Mais Valia e combatido com veemência pela dupla de pensadores.
Embora hoje em dia muita gente
opine sobre o tema e se ache entendedora do assunto, podemos afirmar que a
maioria esmagadora das afirmações feitas sobre o tema ou são falsas ou estão
redondamente enganadas.
Marx e Engels não foram os
primeiros comunistas/socialistas. Ao contrário, faziam parte de associações de
socialistas, que existiam bem antes deles. Muito menos o conceito de
coletivismo fora criado por eles. Na verdade, Marx e Engels eram industriais
burgueses, que criticavam o que consideravam ser uma extrema exploração dos
operários por parte dos industriais.
Sua doutrina não era
anticapitalista, mas pressuponha sua superação. Apesar de admitir os benefícios
trazidos pela sociedade industrial burguesa, os filósofos alemães pretendiam
estender as benesses da indústria àqueles que de fato punham a mão na massa: os
trabalhadores.
Como dito anteriormente eles
faziam parte de um grupo cada vez mais numeroso na Europa do século XIX de
trabalhadores e teóricos que defendiam uma transformação radical da sociedade.
A Europa do Século XIX passava por muitas turbulências políticas e sociais
derivadas do período revolucionário do final do século anterior.
Muitas outras propostas surgiram na mesma época buscando criar ou recuperar algum tipo de ordem social, como o Positivismo, do filósofo-religioso francês Auguste Comte. Hoje, o positivismo influencia de certo modo algumas correntes associadas ao socialismo e comunismo, uma vez que defende a ordem e a ciência para o progresso social.
Marx e Engels seriam
mais uma voz, na multidão a não ser por uma perspectiva que os diferenciava dos
demais: a prática revolucionária e a organização partidária. Ambos não ficavam
em seus escritórios somente escrevendo e publicando textos, mas se reuniam com
correligionários e agitavam ações diretas em busca da finalidade de suas obras.
Os principais livros da dupla forma o "Manifesto do Partido Comunista", escrito em conjunto por ambos, "O Capital", "A Ideologia Alemã" e "A Questão Judaica" de Marx, além de "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", de Engels.
Seus escritos foram influenciados
por algumas teorias às quais chamaram de “utópicas”. O termo utópico advém da
obra de Thomas More (Morus – latinizado), um filósofo, advogado, escritor e
estadista inglês que viveu entre 1478 e 1535 e escreveu o que talvez seja a
primeira obra escrita do ocidente a tratar de uma forma de coletivização ou
comunismo, na modernidade: A Utopia.
Na obra, More relata a visita de um europeu à fictícia nação de Utopia, onde o soberano Utopus governava com serenidade e sabedoria e todas as coisas pertenciam a todos e ninguém era dono de nada.
Os relatos de More, sobre a tal terra fictícia envolvia não só a defesa do desapego de bens materiais, mas invadia o terreno da liberdade religiosa. Morus terminou enforcado e decapitado, por defender a Igreja Católica, contra a revolução anglicana, de Henrique VIII.
Apesar de parecer avançado, este conceito se aproximava tanto da noção
de que a terra era de Deus, ideia já presente na filosofia medieval, assim como
já vista no Livro Bíblico “Atos dos Apóstolos”. Este último, inclusive apontado
com um dos primeiros relatos utópicos pelos autores marxistas.
Em “Atos” podemos ler a afirmação,
que diz:
“Todos os fiéis viviam unidos e
tinham tudo em comum” – Atos 2-44 (bíblia online – versão católica).
Antes deles, porém, segundo
alguns historiadores e estudiosos do judaísmo, um grupo de judeus radical vivia
fora das cidades, em cavernas e não possuíam bens materiais e viviam de estudar
a Torá e aguardar a chegada do Messias. Esse grupo era conhecido como
“Essênios” e, para alguns estudiosos, desta seita é que teria saído João
Batista.
Outras tribos primitivas tanto na
América, quanto na África, na Ásia e na Oceania permaneceram por muitos séculos
em estado primitivo, vivendo sem a existência da sociedade privada, embora a
associação com alguma forma de comunismo possa ser considerada um tanto
forçada.
No século XIX outras teorias
socialistas surgiram na Europa. Na maior parte, essas ideias eram originadas no
humanismo, no iluminismo e no liberalismo, sendo derivações naturais desta
última, principalmente.
Claude-Henri Rouvroy, mais
conhecido como Conde de Saint-Simon criou uma ideologia política, que ficou
conhecida como sansimonismo. Segundo esta doutrina, todas as pessoas envolvidas
no processo produtivo deveriam compor uma classe industrial deveriam ter suas
necessidades reconhecidas e satisfeitas para que houvesse uma economia
eficiente.
Defendia assim, um socialismo
tecnocrático em contraposição aos que chamava de “parasitas” da sociedade,
pessoas que se recusavam a trabalhar e produzir. Essa doutrina surge com força
em oposição ao processo de restauração europeia, um movimento através do qual
as monarquias tentavam recuperar o poder perdido após a expansão do Império
Napoleônico.
François Marie Charles Fourier
propôs a criação de unidades de produção e consumo independentes, às quais
chamou de “Falanstérios”, ou falanges. Essas unidades se organizavam na forma
de cooperativas auto suficientes. Também defendia a liberdade individual e a
igualdade entre os gêneros masculino e feminino, ao mesmo tempo em que
criticava a civilização urbana, o matrimônio, a monogamia e o liberalismo.
Considerado um sátiro, Fourier costumeiramente transcendia o caráter
economicista dos demais socialistas.
Louis Jean Joseph Charles Blanc,
mais conhecido como Louis Blanc defendera a criação de associações
profissionais de trabalhadores de um mesmo ramo e de Oficinas nacionais,
financiadas pelo Estado, nas quais os lucros deveriam ser divididos entre
trabalhadores e o Estado.
Defendeu a República contra a
Monarquia, participando ativamente da Revolução de 1848 e teve suas ideias
postas em prática na França. Sua jornada no socialismo começara após a
Revolução de 1830, que fez a sua família ficar falida.
Robert Owen, industrial inglês
que propôs a organização dos trabalhadores em cooperativas é considerado o pai
do termo socialismo. Primeiramente defensor do utilitarismo e do liberalismo,
seu trabalho na indústria o fez se aproximar do socialismo e, para muitos é o
criador da teoria. Além disso, apoiava enormemente a educação e a reforma do
trabalho.
Para ele ninguém era responsável
por sua vontade. O ser humano é fruto de sua genética e do meio em que vive.
Dizia também que toda religião se baseia na ideia de que o homem é um animal
fraco, imbecil e fanático, por isso se manteve afastados delas. Até que aos 83
anos se converteu ao Espiritualismo e defendeu que a humanidade deveria se
preparar para a paz universal e difundir o espírito do amor, da caridade e da
tolerância.
Pierre-Joseph Proudhon foi o primeiro
a se autoproclamar anarquista. Proudhon teve célebres debates com Marx, por quem fora chamado de utópico. Escreveu "A Filosofia da Miséria" , sua obra mais importante que recebeu duras críticas de seu adversário comunista. Assim, Marx o rebateu escrevendo "A Miséria da Filosofia", onde criticou a falta de ação dos anarquistas.
É curioso perceber que também o termos anarquia e anarquismo sofrem com as deturpações contemporâneas. Primeiramente apresentados no meio dos operários, o termo, hoje foi adotado como uma criação ideológica para defender grandes capitalistas, contra a ação tributária Estatal.
Há ainda o socialismo Fabiano, concebido
pela Sociedade Fabiana, que se propõe a preparar a classe operária para chegar
ao poder. Diferentemente dos Marxistas, os Fabianos são contra a revolução e
acreditam na gradual evolução social. Seu símbolo é uma tartaruga.
De certa forma, os comunistas e
socialistas conseguiram chegar o poder em alguns lugares. A evolução do que se
chamou “Social-Democracia” fez surgir um entendimento de assistencialismo
estatal, que estaria necessariamente ligado ao termo socialismo, o que não é
completamente correto, como apontamos no relato.
Por outro lado, os marxistas
revolucionários conseguiram chegar ao poder, primeiramente na Rússia, em 1917,
suplantando a revolução liberal-democrata, que acontecera meses antes, no mesmo
ano.
Os marxistas já tinham se
organizado duas vezes no que se chamou de Internacional Comunista, ou
Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). A primeira foi em 1876 e
contou com a presença de Marx e Engels, além de anarquistas, reformistas e
defensores das diversas correntes de ideias do movimento operário. A segunda em
1889, foi organizada por Engels.
A terceira acontece em 1919, já
na União Soviética, o primeiro Estado a se assumir marxista, propriamente dito.
Após a escalada de Stalin ao poder, essa associação passa a defender que os partidos
comunistas e trabalhistas no mundo inteiro adiram às causas das minorias, para
que, no somatório se tornassem numerosos em adeptos, pois entendiam que a
maioria é a soma das minorias.
O resultado da União Soviética
foi uma generalização das teorias anteriores amalgamadas de forma abrupta em um
modelo que ficou conhecido como “Socialismo de Estado”, o qual acabou sendo
chamado por socialistas e comunistas que lhe eram contrários de Capitalismo de
Estado. Nele, o Estado é o único com autoridade para empreender e toda
iniciativa econômica depende dele, sendo ao mesmo tempo assistencialista e
taxador de tributos, excessivamente.
O Estado Soviético se torna forte
e intervencionista nas mínimas coisas, ficando tão opulento quanto o Império
Russo Czarista, o qual Lênin tratou de derrubar. Da mesma forma, os movimentos
sociais ligados à AIT, agora sob o comando dos soviéticos passa a defender
igualdade entre os gêneros e os direitos dos homossexuais.
O curioso é que, durante o século
XIX, os movimentos operários consideraram uma vitória o fim da obrigação do
trabalho feminino nas indústrias, enquanto o do século XX defendia a
oportunidade de trabalho para a mulher.
Assim como Marx pautou toda sua
obra na visão de que o trabalhador não tendo propriedades materiais teria como
único bem a sua capacidade de reprodução. Por isso deu à essa classe o nome de
proletariado, exatamente porque sua única fonte de riqueza era gerar
descendentes que faziam com que a classe se tornasse numerosa e por isso
guardaria em seu interior o futuro do mundo, tendo a força necessária para
fazer a revolução.
Exatamente nesse ponto vem o contrassenso do esquerdismo atual, que defende exatamente o aborto e outras formas de planejamento familiar a fim de ajudar num controle populacional. Mar provavelmente não gostaria muito dessa defesa.
O esquerdismo, por sua vez é geralmente associado ao socialismo e ao comunismo. Entretanto, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos, hoje, o que se chama de esquerda política tem muito mais relação com o desenvolvimento da ala social do liberalismo do que com alguma proposta marxista, comunista ou socialista.
Uma das confusões que normalmente aparecem é em relação à presença e atuação do Estado. Marx e Engels pressupunham que o Estado é um instrumento dos capitalistas para controlar a sociedade e manter a ordem econômica nela inscrita.
A esquerda política, em geral defende um Estado forte e atuante, além de assistencialista, se afastando amplamente dos conceitos originários que foram primeiramente associados ao comunismo e ao socialismo.
Em sua história, o
comunismo/socialismo nasce liberal-anarquista, evolui para o reformismo e
termina em um estatismo imperialista.
Na próxima semana falaremos mais
a fundo sobre Anarquismo.
Muito Obrigado, por sua leitura! Valeu!
Nenhum comentário:
Postar um comentário