Olá! Seja bem-vindo ao Semanário
do Pensamento. Nesta semana, estaremos falando um pouco sobre a Formação da
Sociedade e o Contratualismo, segundo as principais correntes filosóficas que
abordam o tema.
A sociedade não surgiu como ela é
hoje! O presente é resultado de muitos processos e acontecimentos históricos
que se sucederam no passado mais ou menos próximo.
Até hoje, religiosos e cientistas
discutem qual teria sido o surgimento do homem e, por conseguinte das
estruturas sociais desenvolvidas por ele. As família, os clã, as tribos, as
cidades, os Estados, enfim como todas essas formações humanas tiveram início?
Embora se busque respostas
científicas através da arqueologia e da antropologia, a verdade é que não se
tem ainda hoje uma resposta concreta sobre o surgimento das coletividades, ou
se elas existem desde o primeiro homem, ou primeiro grupo humano.
Por isso, a resposta à questão da
formação social acaba sendo buscada por meio de ideias abstratas e suposições
filosóficas e teóricas sobre este princípio. Pode-se conceber que hoje o Estado
é composto por três elementos: a obrigação política, o povo e o território. Nesse
texto, abordaremos a formação do povo.
Aristóteles foi um dos primeiros
pensadores a se dedicar ao tema. Ele propusera que a formação social teria se
dado de forma progressiva, a partir do casamento entre homem e mulher, gerando
filhos e formando, assim a família, que proporcionaria a formação dos primeiros
núcleos sociais.
Aristóteles defendia o conceito
do direito natural e até do direito divino, testemunhando em favor do poder do
Estado e até mesmo defendendo a escravidão, alegando que a natureza fizera uns
para mandar e outros para obedecer.
Porém, já no século XVI, Nicolau
Maquiavel escreveu sua obra mais famosa, “O Príncipe”. Nela se desenvolve o
primeiro estudo moderno acerca das relações políticas e assim Maquiavel é
considerado o pai da Ciência Política. Em O Príncipe, o autor pretende
apresentar a Lourenço II de Médici, Duque de Florença a como instituir um governo
nacional sólido e que persistisse ao tempo e às vicissitudes sociais.
Naquele tempo, a Itália ainda não
havia se unificado e a união dos Médicis com o Papa Leão X era vista por
Maquiavel como uma oportunidade de que essa unificação fosse realizada. Por isso,
O Príncipe pretende fundamentar as bases do entendimento das relações sociais a
fim de que o país pudesse ser unido e assim permanecer.
Maquiavel morreu em 1527 e sua
obra máxima foi publicada em 1532, de maneira póstuma.
Em 1651, Thomas Hobbes, matemático,
teórico político e filósofo inglês publicou sua obra prima, O Leviatã. Esta
publicação é considerada um marco, pois traz as bases do Contratualismo
moderno.
O Contratualismo considera que a
sociedade se estabelece a partir de um acordo entre os seres humanos. A partir
da ‘celebração’ desse contrato, a sociedade se forma para a busca de interesses
comuns, do enfrentamento da natureza e da paz social.
Para Hobbes, antes do acordo a
humanidade vivia em um conflito permanente chamado de “Guerra de Todos Contra
Todos”. O contrato social se estabeleceria assim para promover a paz social e
manter a ordem.
A filosofia de Hobbes é pautada
pelo medo. O filósofo chegou a afirmar que sua mãe teria dado a luz a gêmeos:
ele e o medo. Afirmou também que o homem é o lobo do homem e é apenas pela
submissão da vontade individual ao soberano e de abrir mão de sua plena
liberdade em prol da segurança, que os homens poderiam viver em paz e buscar a
prosperidade.
Em estado de natureza, os homens
seriam iguais e a força seria o jugo da sociedade. Desta forma, um indivíduo
não teria segurança para manter suas propriedades e a injustiça poderia
prevalecer.
O soberano a quem Hobbes se
refere é o Estado, cujo poder central deveria ser suficientemente forte para
manter a ordem e garantir a segurança dos indivíduos. Segundo o autor, o homem
em estado de natureza seria cruel e violento.
A ideia de Hobbes era que o povo
lesse sua obra e aceitasse melhor a monarquia. Na época da publicação de “O
Leviatã”, a Inglaterra passava pelo seu período revolucionário e o autor
defendia abertamente o lado monárquico.
John Locke foi outro teórico
político e filósofo inglês. Mas ao contrário de Hobbes, ele defendeu o
parlamentarismo e era contra a monarquia.
A Inglaterra vivia uma época de
forte oposição política entre o parlamento e o rei, que culminou na Revolução
Inglesa, de 1640 a 1688. Apesar do fim do período revolucionário muitas das
diferenças entre os lados se mantiveram ao longo da história e formam cadeiras
no parlamento até os dias atuais.
Locke nasceu pouco antes do
início da Revolução, em 1632 e acabou influenciando os desdobramentos da mesma.
Liberal e contratualista, o filósofo fundamentou sua concepção de que o governo
deve ser consentido pelos governados e que as autoridades das leis devem
respeitar o direito natural do ser humano à vida, à liberdade e à propriedade. Os
governos, para Locke deveriam assim garantir esses direitos naturais.
Atribuiu grande importância à
tolerância e à liberdade, sendo visto como precursor da Democracia Liberal.
Dessa maneira, foi crítico do Absolutismo, que reinara em seu país, no século
anterior a ele.
Por fim, Jean-Jacques Rousseau,
filósofo, pensador, teórico político e músico suíço já na fase do iluminismo
concebe uma visão contratualista diametralmente oposta à de Hobbes. Enquanto
este crê num homem natural cruel e vil, aquele entende que o homem nasce bom e
justo, mas é corrompido pelas instituições sociais.
Rousseau fez parte com Diderot e
Voltaire da Enciclopédia, obra que buscava reunir o máximo do conhecimento
humano disponível na época em um conjunto de livros. Em sua época fora um
liberal, porém, hoje poderia ser visto como um socialista.
Em sua obra “A Origem da
Desigualdade entre os Homens”, o filósofo chega a afirmar:
"O primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer: “isto é
meu” e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro
fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassinatos, quantas
misérias e horrores teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as
estacas e cobrindo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: "Não
escutem a esse impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de
todos e a terra é de ninguém".
Para ele a sociedade não tinha um
objetivo e a “vontade geral” não existe. Dessa forma propunha não que a
sociedade tivesse sido criada por um contrato, mas que este deveria ser
celebrado a partir de então.
Para ele a “Guerra de Todos
Contra Todos” se inicia no estabelecimento da propriedade privada. Sua proposta
de sociedade visa superar a dicotomia entre indivíduo e Estado, propondo leis
que se pautassem pela igualdade, nas relações. Assim as leis devem representar
toda a sociedade, sendo reconhecidas como “vontade geral”, estas sim!
Já o filosofo alemão Georg
Wilhelm Friedrich Hegel foi ferrenho crítico do Contratualismo. Idealista, ele
defendia que a “Vontade Geral” seria um conceito puro e deveria ser mantido na
instância racional e não ser apenas um mero elemento contratual, como propunham
os seus criticados.
A teoria Contratualista-Liberal
ajudou a promover as revoluções burguesas, tanto na Inglaterra do século XVII,
quanto nos Estados Unidos e na França, no século XVIII e até as guerras e
insurreições da tumultuada Europa no século XIX.
Suas concepções de liberdade e
igualdade ajudaram a promover o ideal republicano e de forma tão importante na
consolidação do liberalismo político-econômico, quanto na formação do
socialismo, do comunismo e do anarquismo.
Embora não seja pauta do debate
político atual, essa doutrina foi fundamental para a formação dos blocos que
hoje se enfrentam.
Na próxima semana falaremos mais
a fundo sobre a democracia, sua idealização e formação na Grécia Antiga e seus
desdobramentos e deturpações, que imperam hoje.
Muito obrigado!
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