sexta-feira, 23 de agosto de 2024

O Paradoxo do Conhecimento

 A busca pelo conhecimento pode nos levar ao encontro com a muralha que chamamos de "paradoxo". O conceito vem de Górgias, sofista de Leontinos, na antiga Grécia, que é reconhecido pelas contribuições que fizera ao uso da retórica e da argumentação. 

Para o filósofo, mais importante do que ser verdadeiro, o conhecimento deveria ser passível de ser provado ou defendido. Isto porque, para ele, não seria possível acessar o conhecimento de fato.

Para Górgias, não é possível encontrar o conhecimento no sentido estático e definitivo. Afirmou nada existe que possa ser conhecido, se puder ser conhecido não poderia ser comunicado, se pudesse ser comunicado não poderia ser compreendido.

Dessa forma, o exacerbado ceticismo sofista, que nos leva à retórica pura e a não-verdade de fato encontra na lógica sensorial o seu respaldo. Os sofistas tinham a visão de que o conhecimento verdadeiro não pode ser adquirido e interpretações pessoais da realidade são o que temos a partir do uso dos sentidos.

Se cada pessoa tem seus próprios órgãos sensitivos e cada órgão gera uma resposta pessoal e dentro do cérebro de cada pessoa há todo um conjunto de formas de interpretações, sejam elas geneticamente programadas, sejam culturalmente assimiladas, um mesmo fenômeno ou acontecimento pode ser visto de inúmeras formas diferentes por inúmeros indivíduos diferentes.

É neste ponto que se torna genérico e plausível a visão argumentativa de Pródicos, contemporâneo sofista de Górgias que afirmou que "o homem é a medida de todas as coisas", frase que se tornou célebre no Renascimento e se tornou um dos principais lemas do Humanismo pós-medieval. 



A visão cética vai influenciar o pensamento de Sócrates, que afirmara que conhecia de fato sua ignorância por mais que buscasse saber e por mais que de fato fosse encontrando novos conhecimentos. 

A ciência e suas descobertas reafirmam tal noção à mediada que vamos descobrindo novos horizontes e novas explicações vão substituindo as antigas, como no caso da gravidade. Para Isaac Newton tratava-se de uma força. Para Albert Einstein trata-se de uma distorção no Espaço-Tempo. Já para alguns religiosos judeus e cristãos ocidentais trata-se de da imposição da Mão Divina que segura as pessoas na Terra.

O que de fato é aquilo que chamamos de gravidade depende obviamente da interpretação dos sentidos de cada um e de seu arcabouço cultural. A própria noção da sua existência depende da própria capacidade do indivíduo em entender que existe a atração ou de mesmo se interessar por este entendimento.

Se não há interesse e nem entendimento, se não há a percepção do fenômeno, a própria noção do seu acontecimento é desconhecida. Dessa forma o conhecimento ficaria assim incomunicável e incompreendido, como dissera Górgias, milênios atrás. 

E assim nasce a retórica do que é provável. E o que é provável depende do contexto do que se considera prova, o que está diretamente ligado à convenção social do meio em que os interlocutores estarão envolvidos. 

Podemos entender que o que se pode comunicar depende diretamente dos indivíduos entre os quais se dará a comunicação. 

Se existe de fato um conhecimento verdadeiro, fixo, estável e imutável, seríamos possível a nós, o compreendermos através dos nossos sentidos?

Nem Descartes convenceu os céticos, com seu argumento do cogito, pelo qual argumenta que o fato de pensar garante a sua existência. Afinal, nossos sentidos podem perceber que estamos pensando, mas essa percepção pode ser enganosa, como as demais que nos são transmitidas por nossos sentidos.

E enfim chegamos ao eterno paradoxo do conhecimento, que nos diz que quanto mais descobrimos, mais sabemos que não sabemos de nada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário