quinta-feira, 10 de julho de 2025
O que é Filosofia (enquanto disciplina)
quarta-feira, 2 de julho de 2025
O Primeiro Filósofo
Naquele tempo, cada povo tinha sua própria explicação para o surgimento do mundo e da vida. Cada deus nacional tinha criado o mundo e inserido a vida nele.
Mas isso não poderia ser verdade, pois só há um mundo e, aparentemente para um jovem comerciante grego do século VI a.C. todos os povos pareciam ser compostos por gente, por seres humanos, apesar de marcantes diferenças físicas.
Todos falavam, andavam, comiam, dormiam, construíam, se reproduziam, ou seja, eram todos muito similares. Como um poderia ter sido criado de uma forma por um deus e outro de outra, por outro deus diferente, de um panteão de deuses tão diferentes e com tantas capacidades sobre humanas.
Não será que se tratam do mesmo deus? Ou será que a explicação não é plausível?
Pensando nisso, um comerciante da cidade de Mileto, na costa da Jônia, onde hoje está localizada a Turquia passou a refletir sobre o surgimento do Universo.
Em suas reflexões, considerou a possibilidade de tudo advir de um único elemento, que passou a chamar de "Elemento Primordial" , ou "Arché" , a causa de tudo o que existe.
A noção de Arché propõe que deste elemento original tudo mais se derivou.
Todo o Universo e tudo o que está dele teria surgido desta causa primeira, deste elemento.
O primeiro a propor tal reflexão foi Tales de Mileto, um comerciante, político, astrônomo da antiga Jônia.
Segundo o grego Aristóteles, ele teria sido o primeiro a quem podemos considerar filósofo, na tradição racionalista ocidental.
Através da sua proposição de elemento primordial, ele afastou a explicação do surgimento do Universo e da criação do mundo da esfera mitológica e aproximou do racionalismo.
Tales propusera que a água poderia ter sido este princípio fundamental. Porém, sua consciência de limitação da sua inteligência não fez desta proposição um dogma irrefutável.
Ao contrário, seus discípulos e sucessores propuseram outras substâncias primordiais, outras causas universais e, assim deu início a uma tradição racional e crítica das explicações do mundo e das ciências.
Anaximandro de Mileto, seu primeiro discípulo importante propôs o A-peiron, enquanto Anaxímenes, também de Mileto, sugeriu o Ar, como substância primordial.
E assim, a filosofia ocidental, racional e empirista se desenvolveu de forma crítica, buscando sempre refutações plausíveis, racionais e fundamentadas para as teorias propostas.
A partir desses conceitos, a ciência surge com base na prova prática empírica para teorias racionalmente propostas e sempre buscando explicações para todas as propostas e para as próprias explicações.
Assim nasceu a Escola de Mileto, a primeira corrente da Escola Jônica, a original da filosofia grega.
sábado, 28 de junho de 2025
Comunismo Platônico ( Platão era Comunista? )
Algumas pessoas têm confundido um pouco as ideias de Platão com as ideais marxistas.
Por este motivo, trouxemos esta tabela apresentando as principais diferenças entre as ideias platônicas contidas em "A República" e as ideias marxistas, que melhor representam a teoria do comunismo contemporâneo.
Característica | Ideias de Platão (em "A República") | Comunismo Moderno (Marxista) |
Contexto Histórico | Grécia Antiga (século IV a.C.), sociedade agrária, escravista, preocupação com a polis ideal. | Revolução Industrial (século XIX), sociedade capitalista, crítica à exploração e desigualdade. |
Escopo da "Comunidade" | Aplicada apenas às classes dominantes (Filósofos-Reis e Guardiões); as demais classes mantinham propriedade privada. | Aplicada a toda a sociedade, com a abolição universal da propriedade privada dos meios de produção. |
Objetivo Principal | Moral e Político: Garantir a justiça, a estabilidade e a não corrupção dos governantes para um Estado ideal. | Econômico e Social: Abolir a exploração, a luta de classes e a alienação, buscando a igualdade e a abundância para todos. |
Natureza da Propriedade Comum | Propriedade pessoal (bens, esposas, filhos) para a elite, visando eliminar laços pessoais e fortalecer a lealdade ao Estado. | Propriedade dos meios de produção (fábricas, terras, recursos), visando a controle coletivo da economia e a distribuição equitativa. |
Estrutura Social | Hierárquica e Estratificada: Baseada em aptidões inatas, com classes distintas e sem mobilidade social significativa. | Sem Classes: Busca a eliminação de todas as classes sociais, resultando em uma sociedade igualitária. |
Meio de Mudança | Proposta filosófica para um modelo ideal, a ser implementado por governantes sábios. Não há conceito de revolução popular. | Revolução do proletariado, impulsionada pela luta de classes e a contradição do capitalismo. |
Papel do Estado | Essencial e Permanente: O Estado ideal é central, governado por uma elite sábia para manter a ordem e a justiça. | Temporário (transição): O Estado (ditadura do proletariado) é uma ferramenta para a socialização, destinada a "definhar" em uma sociedade comunista plena. |
As ideias de Platão sobre a propriedade comum para os guardiões eram uma solução para um problema moral e político específico dentro de uma hierarquia social pré-existente, focada na estabilidade de uma elite governante.
Já o comunismo moderno é uma teoria revolucionária socioeconômica
que busca a transformação radical de toda a sociedade, a abolição das classes
sociais e da exploração através da socialização dos meios de produção.
Apesar de uma aparente similaridade na
"ausência de propriedade privada", os fundamentos, a abrangência e os
objetivos dessas duas filosofias são amplamente divergentes.
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
Nietzsche: Deus Morreu
Então chegamos à grande questão que a filosofia tem se debruçado há séculos: existe algo além do material?
Foi esta questão que incentivou os pré-socráticos a buscar uma resposta para as diferentes respostas acerca da criação do mundo e os fez criar o elemento primordial.
Afinal, se a resposta fosse simples, não seriam criadas tantas alternativas diferentes.
E foi exatamente pela falta de respostas, que Friedrich Nietzsche ressuscitou os Pré-Socráticos a fim de remontar as teorias que tratam do materialismo filosófico.
Este materialismo que ficou tão em voga no século XIX, e nos trouxe a dialética materialista de Karl Marx e o Positivismo de Auguste Comte, mas também elucidou a vontade de potência trazida por Nietzsche.
Afinal, se não existe a transcendência, para que nos serve o moralismo? Para que nos serve a religião e os bons costumes? A não ser para servir ao fraco de prisão do mais forte....?
Então, se algo existe para além da matéria serve para nos prender ou para nos libertar?
Bem, para Nietzsche nada existe para além deste mundo, orientado pelo caos. E o filósofo que busca compreender os valores se envereda contra a própria filosofia, pois desta forma busca algum amparo às suas ilusões metafísicas em detrimento do conhecimento verdadeiro.
Dessa forma, Nietzsche tenta nos mostrar que somos produtos do nosso tempo, históricos, datados, constantemente influenciados por nossas subjetividades.
Assim sendo, afirma que não existem regras universais e verdades absolutas, se afastando da modernidade que o antecede.
Desta forma, Nietzsche se afasta de qualquer forma de divindade, seja religiosa, seja científica, afinal, para ele a ordem científica também era um divindade, ainda que buscasse se afastar da religiosidade.
A única ordem no Universo é o caos absoluto....
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Tales de Mileto é o Primeiro Filósofo, para Nietzsche, mas...
Era por volta do ano 585 a.C., quando Tales, considerado o primeiro físico grego florescia em sua filosofia. Sua escola de pensamento começava a ganhar notoriedade.
Ele inaugurou a a linha de pensamento crítico ocidental, que buscava explicação racional e com base na natureza para a explicação do surgimento do Universo.
A Escola Jônica foi a primeira a buscar explicações racionais par ao mundo, logo seguida pela Eleata e pela Pitagórica, as principais correntes filosóficas consideradas pré-socráticas.
Os pré-socráticos são os filósofos gregos que aparecera antes de Sócrates, considerado um divisor de águas na história da filosofia. Isso porque o ateniense foi o primeiro a buscar trazer reflexões sobre a ética e a sociedade e não só apenas buscar explicações para fenômenos fisiocráticos.
Por sua vez, os Pré-Socráticos foram considerados filósofos fisiocráticos exatamente porque se concentravam principalmente em explicações para o mundo físico e metafísico.
Tales de Mileto foi o primeiro a propor este tipo de explicação. Utilizando-se do senso crítico e da razão propôs o conceito de elemento primordial, do qual derivariam todos os outros elementos e objetos existente em nossa realidade.
O fundador da Escola Jônica não pretendia ser dogmático e propôs, talvez até mesmo tenha incentivado seus discípulos a contestar sua proposição de forma crítica e embasada.
Além de físico, Tales também foi astrônomo, político, comerciante e chegou a ser considerado um dos 7 sábios da Grécia Antiga.
Esses filósofos Pré-Socráticos poucos escritos deixaram e pouquíssimos fragmentos e citações chegaram até nossos dias.
As maiores fontes de referência a seus pensamentos advém de relatos de historiadores e citações de outros filósofos, como Aristóteles, Platão e Simplício.
Mas o que torna Tales tão diferente que o faz ser considerado o primeiro filósofo da história ocidental?
Antes de responder à pergunta é preciso considerar os estudiosos que remontaram a importância dos primeiros pensadores críticos da Grécia.
Na modernidade Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Friedrich Nietzsche foram 2 filósofos que buscaram nos primeiros pensadores gregos referências para suas análises e reflexões.
Nietzsche foi, inclusive, um dos principais utilizadores das referências dos Pré-Socráticos e ajudou a dar mais visibilidade aos pensamentos e teoria dos fisiocratas de outrora. E é exatamente o radical filósofo alemão que tenta dar essa complexa explicação.
Segundo afirmou Nietzsche, existem 3 razões para considerar a importância do pensamento filosófico iniciado por Tales em Mileto como o primeiro passível de ser chamado de filosófico.
A primeira refere-se ao fato de de enunciar algo sobre a origem das coisas, embora essa parte ainda mantenha de certa forma próximo dos místicos e religiosos. Mas por si mesma já demonstra uma certa capacidade racional, pelo simples fato de entender que as coisas que existem nem sempre existiram como são hoje.
A segunda a separa do grupo dos supersticiosos e míticos por buscar essa explicação inicial sem o uso de fábulas, mitos e alegorias.
A terceira é a que faz a diferença. Segundo Nietzsche, embora incipiente está contido o pensamento "Tudo é um", para ele, um postulado metafísico baseado na intuição mística do primeiro filósofo, que gerou uma "tirana" generalização.
Apesar da apreciação apresentada, Nietzsche usa sua argumentação para traçar uma crítica profunda à constituição da filosofia com base em algo que considerou uma contemplação movida por uma crença ilógica, fantasiosa e indemonstrável.
O filósofo alemão propôs uma revolução na visão da filosofia ocidental, libertando o pensamento de mundos ideais, criticando o moralismo religioso, o niilismo existencialista e o racionalismo filosófico.
sexta-feira, 13 de setembro de 2024
O Surgimento da Filosofia Grega
Pelas cristalinas águas azuis dos mares Mediterrâneo, Grego e Jônico, comerciantes do sul da Europa, do Norte da África e do Oriente Médio navegavam buscando riqueza e prosperidade, no século VI a.C.. Muitos tornaram-se proeminentes no comércio e foram bem abastados por muitos anos.
Porém, poucos tiveram a relevância e mantiveram seu nome vivo por tantos séculos quanto um mercador de ascendência fenícia, de família nobre que saíra da cidade de Mileto, onde hoje é a atual Turquia e singrou os mares fazendo comércio e aprendendo ciências.
Seu nome era Tales e ele se tornou importante e renomado em diversas áreas. Era de fato um Homem Universal.
Saindo de sua terra natal, Tales conheceu o Antigo Egito e aprendeu matemática e astronomia. Aplicando seus conhecimentos na prática, inclusive comercial, tornou-se consideravelmente rico.
Mas para ele não bastava apenas o sucesso material. Ele tinha algo que o impelia a querer mais. E assim, trouxe para o mundo grego, que em sua época era uma grande metrópole, em função da sua posição geográfica, uma gama de novos conhecimentos que inspiraram uma radical mudança no modo de pensar o mundo, posteriormente.
Esta mudança foi a passagem do pensamento mítico-religioso para o pensamento filosófico-científico, que foi proporcionado pela criação da sua escola: a Escola Jônica.
Ao observar que cada povo tinha uma explicação mítica para o surgimento do mundo, da vida e do homem, Tales pensou que, provavelmente, não poderiam estar todos certos. Afinal, o mundo era o mesmo e as explicações eram diversas.
A lógica aflorou em seu pensamento e então ele concluiu que a causa do surgimento do mundo não estava nas explicações mitológicas, mas sim, na própria natureza que nos cerca.
Dessa forma, propôs que a origem de tudo vinha de alguma coisa natural e específica e que de alguma forma, esta coisa sofreu alterações que transformou-a em uma multiplicidade de seres e objetos.
Essa coisa que teria gerado todas as outras recebeu o nome de "Elemento Primordial" ou "Arché". Este elemento, para Tales era a água.
A água era assim a "Physis" do Universo, que no idioma persa antigo significava tanto que era a fonte originária quanto processo de surgimento.
Mas Tales era contra o dogmatismo e, ao contrário dos religiosos que ditavam as regras do surgimento do Mundo e que não admitiam o contraditório, Tales propôs que seu novo sistema fosse sempre encarado de forma crítica e, assim também pudesse ser revisto e aceitasse novas proposições.
Assim, seus discípulos propuseram novos elementos primordiais, novas Archés e novas Physis, buscando sempre apresentar razões críticas e com base na observação do mundo natural.
Essa nova forma de pensar o mundo se chamou filosofia e foi a base para o desenvolvimento científico do ocidente.
Tales iniciou a corrente filosófica grega, que diferia das filosofias orientais por seu caráter crítico, sua proposição por frequentes revisões, por sua sistemática e continuidade com base na crítica dos pensadores anteriores.
Sua escola foi chamada e Escola Jônica e foi uma corrente de pensamento fisiocrática que buscava explicar a existência do Universo através de causas naturais e não explicações supersticiosas e sobrenaturais que não pudessem ser observadas.
Devido a esta iniciativa, temos hoje a filosofia e a ciência que nos proporcionam a capacidade e entender e interagir com a natureza deste e de outros mundos.
E a continuidade do trabalho de Tales, vamos ver na próxima postagem!
Se mantenham pensantes!
Alípio de Araújo Neto
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
Política: Existem regras gerais ou cada povo tem a sua própria maneira de formular leis?
Nesta semana publicamos dois vídeos trazendo passagens emblemáticas de dois importantes pensadores pós-medievais.
Numa, tivemos Maquiavel e noutra Rousseau.
São dois pensadores bem divergentes em termos de pensamentos, mas que trazem similaridades intrínsecas entre si.
São dois pensadores modernos que trouxeram reflexões importantes sobre a política europeia pós-renascentista.
No caso de Maquiavel, escritor e político italiano do século XVI, este buscou formular uma teoria política universal, que seria acessível a qualquer um em qualquer momento em qualquer situação.
Daí sua visão de que a ideia de castigo exemplar seria o suficiente para doutrinar toda uma sociedade.
Por outro lado, a visão de Jean-Jacques Rousseau, genebrino pensador do século XVIII idealizava o homem natural.
Dessa forma, propunha que as leis observassem as disposições naturais de cada homem em cada situação natural e, que em cada situação específica uma lei específica deveria ser formulada.
De fato, existem situações em que regras gerais podem ser observadas em sociedades humanas, mas em geral as especificidades são determinantes para as formulações de leis especificas.
Não podemos afirmar que exista uma regra geral ou específica para a ação humana em sociedade. Ao contrário, isso ainda é tema de muitos debates e discussões das maiores e melhores mentes da atualidade.
Mas as dicotômicas visões destes dois grandes pensadores de outrora nos trazem este importante debate acerca da teoria política.
Afinal, podemos ter regras gerais na política, ou devemos observar as singularidades de cada povo para a formulação de leis específicas?
Fica aqui o nosso debate.
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