sábado, 14 de agosto de 2021

Técnica x popularidade

O que importa mais: ser profundamente bom ou ser amplamente popular?



Quando tratamos de um produto, de um objeto, de uma máquina ou de um serviço, a qualidade técnica é facilmente definida. Se um produto funciona como ele se propõe a funcionar e acima da média de seus similares, assim como se tem uma durabilidade alta dizemos que ele tem qualidade.

Entretanto, quando analisamos indivíduos e ações humanas esse conceito se torna amplamente relativo. Vemos músicas, livros, até mesmo profissionais que podem ser muito populares, mas que não apresentam a chamada qualidade técnica que muitas vezes é vista em obras e pessoas menos requisitadas. 

Quem apresenta mais qualidade, um pianista clássico que estudou por anos horas e horas o seu instrumento e que faz uma obra afinada e com uma produção sofisticada, mas que tem menos que uma centena de ouvistes ou um artista popular que faz uma produção quase caseira, desafinada e simplória, mas que que tem centenas de milhares de apreciadoras?

Será que importa mais ser tecnicamente ou bom ou ser popularmente reconhecido? 

Muitas vezes, em se tratando de questões humanas o que entendemos como bom, pode simplesmente não agradar o público, seja pelo momento social vivido, seja pela falta de compreensão do projeto, por parte das pessoas no meio ao qual ele é exposto. 

Será que Mozart e Chopin teriam alguma relevância no meio artístico atual? Será que Michael Jackson e Lady Gaga teriam sido conhecidos, antes do advento da música comercial?

Para ser popular é preciso atender às expectativas do público geral, para o qual a obra será direcionada, assim como ser facilmente assimilável e conter uma grande quantidade de elementos que sejam familiares aos receptores. Novidades devem ser inseridas com cautela. 

Já para ser tecnicamente bom é preciso muitas e muitas horas de estudo, prática e aperfeiçoamento. O curioso é que, nos tempos atuais, esta função exige mais investimento em tempo que a primeira, mas o retorno financeiro é altamente questionável.


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Filosofia e Esportes: Olimpíadas na Antiguidade.

O que tem a ver filosofia e esportes? Filósofo pratica esportes? Qual filósofo participou das Olimpíadas na antiguidade?



Quem acha que filósofos são "nerds" meio lesados, com dificuldades para esportes está enganado. Ao menos se estamos falando de filósofos gregos. 

Ao contrário do que os estereótipos atuais possam sugerir, os filósofos de Grécia Antiga costumavam-se a dedicar a muitas disciplinas e, por essa razão foram considerados homens universais.

Aristóteles, Sócrates e Platão, por exemplo, foram relatados como expectadores dos jogos olímpicos em algumas oportunidades. 

Platão foi além. Apesar da sua filosofia contemplativa, sua prática foi muito mais incisiva do que aparentaria. 

O filósofo inclusive participou dos jogos como competidor e teria sido bicampeão olímpico no pancrácio, um espécie de luta misturada com pugilato (quase um boxe), um "vale-tudo" da época. 

Outro que pode ter participado dos Jogos foi Pitágoras. Pode, porque até hoje não se sabe ao certo se foi mesmo o matemático de Samos, que chegou a ser proibido de competir no pugilato, o boxe da época, mas foi proibido de competir entre os meninos por ter sido considerado "efeminado". No entanto, competiu entre os homens e ganhou de todos os adversários. 

Segundo o clássico historiador e biógrafo dos filósofos gregos, Diógenes Laércio, não se tratavam da mesma pessoa, embora alguns autores contemporâneos discutam essa identidade. 

Aliás, hoje os especialistas em educação já admitem que há uma relação direta entre a prática de esportes e o desenvolvimento intelectual. Quem pratica esportes na escola aprende mais facilmente. 

Portanto, tenha cuidado! Não ache que aquele fortão que puxa ferro na academia tem a cabeça vazia. Muito filósofos também foram atletas. Filósofo também pratica esportes.




Araújo Neto


sexta-feira, 30 de julho de 2021

Socialismo Utópico X Socialismo Científico

Falar de socialismo e comunismo é muito complicado, devido às paixões e antíteses que os termos suscitam, hoje em dia. Mas é importante sempre destacar que em muitos casos propostas diametralmente opostas acabam sendo classificadas dentro destas mesmas categorias.




Este artigo é sobre a diferença entre o socialismo humanista, chamado de utópico e o comunismo marxista, classificado como científico. 

Antes de apontar as diferenças, entretanto, é preciso informar que os termos utópicos e científico empregados para qualificar os dois ramos que são bem diferentes em propostas e posturas podem ser vistos como adjetivos exagerados.

Tanto o cientificismo do marxismo quanto o idealismo dos humanistas têm suas limitações. Nem tudo é científico entre os marxistas, aliás boa parte da doutrina é baseada em especulação. Assim como os chamados utópicos buscaram praticar e comprovar suas teorias em diversas oportunidades. 

Mas de modo geral, a distinção é até plausível, uma vez que se trata de classificar a base de sustentação das propostas teóricas aqui analisadas. 

O socialismo humanista é uma derivação natural e consecutiva do liberalismo e do iluminismo do século XVIII. Nascido no final deste século e popularizado no início do século seguinte, esta corrente é amplamente influenciada pela escola literária do Romantismo.

Dessa forma, assim como o Liberalismo, esta corrente teve a maioria de suas ideias e doutrinas sedimentadas sobre um profundo idealismo romântico. Assim sendo, suas propostas são claramente idealizadas e seus sentimentos exacerbados são colocados muitas vezes à frente da razão.

Muito mais baseada em anseios do que na lógica e na experiência prática, o socialismo humanista recebeu a alcunha de utópico exatamente dos marxistas, em virtude de suas aspirações não empiricamente exemplificadas. 

De outro modo, na metade do século XIX,  surgiu a teoria marxista do comunismo. Ao contrário de sua antecessora, esta teoria buscava se basear em dados e observações da prática cotidiana. 

Devido ao período em que fora formulada, a teoria marxista é amplamente influenciada pelas escolas literárias do Realismo e do Determinismo, assim como oriunda da sociedade industrial pós-revolução, o tecnocracia e uma dose significativa de etnocentrismo podem ser detectadas, nessa corrente. 

Em virtude do crescimento e popularização da ciência, resultado da expansão da industrialização na Europa o Marxismo buscava ser essencialmente uma ciência, tendo como base a sociologia e a economia. Da mesma maneira, o internacionalismo que o avanço do capitalismo apresentava foi determinantemente influente para a concepção derradeira desta teoria. 




Enfim, de fato ambas as corrente tiveram muita influência na política e até os nossos dias têm. Importa salientar que o que temos de esquerda política nos países ocidentais tem uma fortíssima influência da primeira e uma leve inclinação para a segunda. Já em países cujas revoluções nacionalistas se sucederam durante o século XX forma mais notadamente influenciados pela segunda, como a URSS e a China. 


Araújo Neto

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Vale a pena refletir?

Momento como este em que vivemos nos faz refletir sobre nós, sobre o mundo! Nesse momento, temos de nos perguntar: o que de fato vale para nós?



Vale arriscar a vida que não volta, pelo dinheiro que é passageiro, que pode-se perder em um dia e ganhar em um outro?

Vale arriscar a vida dos outros em troca de momentos de glória efêmera e retornos tão imediatos quanto voláteis?

Vemos que muitos que buscam o retorno financeiro e material do que fazem não têm um objetivo para este retorno. O material é o próprio retorno. 

Vidas vazias que depositam esperanças em ídolos de luz, que desaparecem quando acaba a bateria. 

É um momento interessante para se perguntar se foi mesmo melhor termos criado a sociedade para vencermos a natureza ou se criamos uma selva ainda mais violenta do que a natural, de onde saímos a milênios. 

Terão razão os anarquistas que querem quebrar as máquinas? 

Terão razão os contratualistas que querem acordos entre os humanos para uma vida social tranquila e produtiva?

Ou terão razão os imperialistas e fascistas que defendem o uso da foça que vença o mais forte e esta é a justiça do mundo?

Será que valerá a pena refletir sobre isso, ou é mera perda de tempo e devemos nos concentrar em acumular mais e mais?

Será que vale a reflexão?



Araújo Neto

sexta-feira, 16 de julho de 2021

O que faz um filósofo?

No jornalismo, o profissional responsável pela redação de uma matéria, o redator deve responder a seis perguntas fundamentais, chamadas de Lead: o que? Quem? Quando? Onde? Como? Por que?




O filósofo, por sua vez tem uma função diferente. Ao invés de simplesmente responder ou até o inverso, contestar essas perguntas, a função do filósofo é questionar a razão das próprias perguntas. 

A razão de ser e de existir de todas as coisas, materiais e imateriais são temas sobre os quais o filósofo deve se debruçar e refletir. 

Para o senso comum basta que as perguntas sejam respondidas de forma razoavelmente convincente. Isso acontece até menos de forma menos racional e mais sentimental. Já para o filósofo, as respostas devem buscar o estrito racionalismo. 

Seu trabalho não termina no questionamento, mas se estende pelo significado, tanto lógico, quanto moral, quanto social, quanto psicológico do que se está questionando. 

Infelizmente, vivemos em uma sociedade que tem constantemente desmerecido a tarefa. Não por acaso, esta função sempre foi negligenciada pelos populares e mantida no interior dos palácios dos governantes. 

Historicamente, o filósofo esteve como conselheiro de grandes reis e imperadores e distante do popular, como podemos ver no caso da relação entre Aristóteles e Alexandre o Grande. De forma inversa vemos a história de Diógenes de Sinope e os Cínicos

Quando os filósofos se aproximam do povo, acabam se tornando ou se assemelhando a desabastados, mendigos, exilados e excluídos socialmente. Isso acontece porque o poder é muito ciumento. 

É preciso por fim, definir que o filósofo não é o falido, como tenta nos fazer crer aquele jogo de tabuleiro, cujo vencedor é o milionário e o perdedor vai para o campo, viver como filósofo. 

Muito menos é um jornalista frustrado que se torna astrólogo e depois de décadas de inutilidade se torna um agitador político anticientífico e terraplanista. 

Ao contrário, o filósofo não é o contestador da ciência, mas seu precursor. Só existe ciência hoje, porque no passado, os jônicos resolveram fazer filosofia. Assim, afastaram o pensamento do mito e da magia e proporcionaram a todos os que têm vontade a aprender como o mundo natural funciona. 

Muito Obrigado! 

Se Mantenha Pensante! 

Araújo Neto

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Além da liberdade!

Quem está mais próximo da liberdade?



John Stuart Mill, considerado por alguns como o pai do liberalismo e que era utilitarista que defende o limite do poder que pode ser exercido legitimamente pela sociedade sobre o indivíduo?

Ou seria Karl Marx que defende o oposto e, para ele, o indivíduo estaria livre a medida que a sociedade se impusesse sobre todos os indivíduos de maneira comum?

É difícil fazer tal julgamento, pois se há alguns mais livres que outros estes outros terão de fato alguma liberdade, ou serão prisioneiros das vontades dos que são verdadeiramente livres?

De outro modo, se a sociedade se impõe ao indivíduo e lhe priva de qualquer tipo de liberdade haveria a possibilidade de se entender que estes indivíduos estariam de fato livres de forma absolutamente idêntica? Haveria sequer a possibilidade se haver realmente uma determinação que tornasse exatamente igualitária as relações de todos os indivíduos com a sua sociedade?

O fato é que os radicalismos nunca se provaram práticos e eficientes como se propunham. Ao mesmo tempo que sociedades democráticas se mostram muito "simpáticas" ao autoritarismo sazonal, as sociedades ditas igualitárias sempre ostentaram poder centralizado e hierarquias rígidas. 

O que fica para a história é a clássica máxima que afirma: "falar é fácil"!

Araújo Neto

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Heráclito, o filósofo obscuro

Entre os anos 540 e 470 a.C., na região de Éfeso, uma pólis grega que fica onde hoje é território da Turquia, circulava um sábio enigmático e complexo. Se nome era Heráclito e ele acreditava que a natureza estava em constante transformação.



Este filósofo ficou famoso pela máxima "Panta Rei", que significa de forma simplificada que tudo flui, tudo se move. Dessa forma a natureza é classificada pelo eterno Devir, ou seja tudo se torna outra coisa, tudo se transforma. Como diria o verso daquela canção, "tudo muda o tempo todo, no mundo"*.

Heráclito de Éfeso é considerado o pai da dialética e foi chamado de " o obscuro", devido à dificuldade de entender suas teorias, inclusive por outros filósofos. 

Para o filósofo de Éfeso tudo era movimento. Tudo se move, exceto o movimento. E
o "devir" que está presente em todas as coisas e é recorrente trata-se de uma alternância entre os contrários, como o quente que esfria, o seco que se molha e vice-versa. 

Assim o pensador conclui que há uma harmonia nessa relação entre opostos, o que se configura como um ciclo que se repete.

Sua passagem mais célebre é o aforismo do rio, no qual o pensador compara tudo às águas de um rio. Tudo flui, como as águas de um rio. E daí formulou o conceito:

"Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai."

— Diels-KranzOs fragmentos dos pré-socráticos, 91

Heráclito foi um pré-socrático da escola jônica. Como tal aderiu à formulação de um elemento primordial. Para a função, ele escolheu o fogo. 

O filósofo de Éfeso também tratou da cosmologia, com base na sua crença de que o fogo gerara todas as outras coisas. Além disso, também propôs um conceito de divino no qual Deus seria não um ser criador e onipotente, mas sim a composição de opostos, como o dia e a noite, a guerra e a paz, etc. 

É mais conhecido pela contraposição com a filosofia de Parmênides. Este considerara a unidade e o imobilismo do ser, uno, eterno e imutável. Esta fora uma das grandes celeumas da história da filosofia ocidental.

Heráclito era um homem sábio e inteligente, porém excessivamente arrogante e antissocial. Conta-se que, em seu tempo, teria se desentendido com os médicos de sua cidade. 

Em dado momento se retirou da vida social e foi viver isolado em uma montanha. 

Aconteceu que ficou doente e decidiu voltar para se tratar. Alguns historiadores acreditam que se trata-se de um edema. 

Como não confiava em médicos, consultou um curandeiro das proximidades, que recomendou que ele se cobrisse com esterco, o que acredita-se que tenha feito. 




Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas após isso o filósofo acabou falecendo. Uns apontam que teria se sufocado no estrume, enquanto outros acreditam que tenha sido devorado por cães famintos. Outros apontam ainda que teria morrido naturalmente em decorrência da sua doença.

O fato é que Heráclito foi um pensador muito influente e é referência ainda hoje, mais de dois séculos após a sua morte!




*Como Uma Onda (Lula Santos e Nelson Motta)!

Araújo Neto